ORDEM NASCENTE

Textos poéticos e filosóficos sobre a ordem nascente
A ordem nascente é ainda elusiva e periclitante. São muitos os profetas apocalípticos que auguram o fim dos tempos, e assim alimentam o medo no ser humano, facto que não pode bem servir a humanidade. Mas há, sem dúvida, crescentes indícios, vestígios, sinais que auguram o fim de um tempo, o ruir das estruturas... MARIANA INVERNO

30 agosto 2004

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O CANTO ANCESTRAL DA MÃE

O luto na alma é como uma casa fechada e silenciosa, onde pairam restos de odores reminiscentes daquilo que amámos e já não podemos mais beijar com o olhar. Dói tanto, aparece tão injusto, tão contra natura...
O exemplo miserável da violência, perpretado pelos homens criadores da guerra e da carnificina, doutrinários da posse e do controle, é um incentivo a que as mulheres, criativas e conciliadoras por natureza, fomentem novas estruturas e padrões de comportamento, baseados na cumplicidade, na reciprocidade, na dádiva... Há todo um mundo de ternura e encantamento que só o lado feminino do ser humano sabe assumir... Dar força a esse lado habilita-nos à graça e à paz. Esquecer as etiquetas da propriedade, anular o absurdo orgulho, fundir os olhos no húmido suave e não falado que nos irmana.
Aí, algures, habita o canto ancestral da Mãe...


MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos

29 agosto 2004

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RESSONÂNCIA E EVOLUÇÃO


DEUS, a consciência que dele possamos ter, situa-se na capacidade de ressonância das nossas próprias células. Elas são a nossa receptividade física. Traduzem o nosso poder de resposta interior. Materializam a nossa conquista evolutiva.

Onde chega a resposta vibratória, a sua maior ou menor frequência, chega o CÉU ou não-CÉU de cada um.
Essa capacidade ou incapacidade de alta vibração, informa sobre o grau de consciência que cada um soube atingir.



Consciência entendida não só como percepção mental, mas como PODER DE ADESÃO EMOCIONAL. Como experiência ou inexperiência amorosa da Vida. Só a emoção amorosa viabiliza a experiência Unitária do Mundo.


MARIA FLÁVIA DE MONSARAZ, Da Alquimia do Mundo
Hipocampo Editora, Rio de Janeiro, 1990

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A NÃO VIOLÊNCIA É A LEI DA NOSSA ESPÉCIE

"NÃO HÁ CAMINHOS PARA A PAZ. A PAZ É O CAMINHO!

Não pode haver paz dentro sem verdadeiro conhecimento.

Ler e escrever, de per si, não são educação. Eu iniciaria a educação da criança, portanto, ensinando-lhe um trabalho manual útil, e colocando-a em grau de produzir desde o momento em que começa a sua educação. Desse modo todas as escolas poderiam tornar-se auto-suficientes, com a condição de o Estado comprar os produtos manufacturados.
Acredito que um tal sistema educativo permitirá o mais alto desenvolvimento da mente e da alma. É preciso, porém, que o trabalho manual não seja ensinado apenas mecanicamente, como se faz hoje, mas cientificamente, isto é, a criança deverá saber o porquê e o como de cada operação.Os olhos, os ouvidos e a língua vêm antes da mão. Ler vem antes de escrever e desenhar antes de traçar as letras do alfabeto.
Se seguirmos este método, a compreensão das crianças terá oportunidade de se desenvolver melhor do que quando é freada iniciando a instrução pelo alfabeto.
Nada mais longe do meu pensamento que a idéia de fechar-me e erguer barreiras. Mas afirmo, com todo respeito, que o apreço pelas demais culturas pode convenientementemente seguir, e nunca anteceder, o apreço e a assimilação da nossa. (...) Um aprendizado académico, não baseado na prática, é como um cadáver embalsamado, talvez para ser visto, mas que não inspira nem enobrece nada. A minha religião proíbe-me de diminuir ou desprezar as outras culturas, e insiste, sob pena de suicídio civil, na necessidade de assimilar e viver a vida.
Acredito na essencial unidade do homem, e, portanto na unidade de tudo o que vive. Por conseguinte, se um homem progredir espiritualmente, o mundo inteiro progride com ele, e se um homem cai, o mundo inteiro cai em igual medida.


A minha missão não se esgota na fraternidade entre os indianos. A minha missão não está simplesmente na libertação da Índia, embora ela absorva, em prática, toda a minha vida e todo o meu tempo. Por meio da libertação da Índia espero actuar e desenvolver a missão da fraternidade dos homens.
O meu patriotismo não é exclusivo. Engloba tudo. Eu repudiaria o patriotismo que procurasse apoio na miséria ou na exploração de outras nações. O patriotismo que eu concebo não vale nada se não se conciliar sempre, sem excepções, com o bem maior e a paz de toda a humanidade.A oração salvou-me a vida. Sem a oração teria ficado muito tempo sem fé. Ela salvou-me do desespero. Com o tempo, a minha fé aumentou e a necessidade de orar tornou-se mais irresistível... A minha paz muitas vezes causa inveja. Ela vem-me da oração. Eu sou um homem de oração. Como o corpo se não for lavado fica sujo, assim a alma sem oração se torna impura.

UMA CIVILIZAÇÃO É JULGADA PELO TRATAMENTO QUE DISPENSA ÀS MINORIAS.



Possuo a não-violência do corajoso? Só a morte dirá. Se me matarem e eu com uma oração nos lábios pelo meu assassino e com o pensamento em Deus, ciente da sua presença viva no santuário do meu coração, então, e só então, poder-se-á dizer que possuo a não-violência do corajoso.
Não desejo morrer pela paralisação progressiva das minhas faculdades, corno um homem vencido. A bala de meu assassino poderia pôr fim à minha vida. Acolhê-la-ia com alegria.
A não violência é a lei de nossa espécie como a violência é a lei do bruto. O espírito mente, dormente no bruto, e ele não sabe nenhuma lei senão a do poder físico. A dignidade de homem requer obediência a uma lei mais alta - a força do espírito.

A força de um homem e de um povo está na não-violência. Experimentem!"


MAHATMA GANDHI (1869-1948)

27 agosto 2004

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A MINHA OBRA

Tenho andado hoje a pensar na minha obra. Aquela a que devo dedicar-me prioritariamente, segundo alguém me disse. Andas a promover a obra dos outros e ainda não te concentraste na tua. Não tens obra feita, como podes dirigir um PROJECTO que se centra no princípio da criatividade?!
Alguma coisa me soou errado nessas palavras, mas nada disse. Saí para a tarde excepcionalmente luminosa de Londres, embora um pouco fresca. Havia ainda muita luz e caminhei com agrado por entre os edifícios de estilo e os jardins dos largos resguardados, a pensar na minha obra.
O que é a obra de uma pessoa? Aquilo que deixa feito, certamente. Nesse sentido, todos deixam uma obra. Bem ou mal feita, a obra da vida de cada um é um facto inegável. Entre 1940 e 1998, de 1923 a 2001 ou de 1899 a 1987, como a minha avó Mariana. Dois grupos de digitos delimitam o espaço temporal em que se situa a “obra” de cada um. Penso no meu caso: 1950 - ?. É engraçado pensar que virei um século e um milénio e que ali em vez do ponto de interrogação vai figurar uma data que, por ora, está no segredo dos deuses. Tanto pode ser 2005, como 2025 e até, quem sabe, 2050 (seria uma grande partida da vida o vir a ser centenária, não quero mesmo). Ou qualquer outra data, sobre a qual a única certeza é a de que o primeiro algarismo será 2. Nessa data, sobre a qual hoje só se pode especular, terei completado a obra da minha vida. E o que será, afinal, essa obra?


Uns poucos/muitos livros que tenha conseguido escrever, com os quais tenha eventualmente ganho algum prémio ou alcançado notoriedade entre os leitores?
Ou outra coisa muito mais abarcante (e que inclua eventualmente os livros) mas que tenha a ver com a minha actuação como ser humano criativo por todos os recantos e trilhos por onde passei?
Disse-me alguém que não tenho obra. Engana-se. Ai isso é que tenho! Quando comecei a tomar consciência de mim mesma, encontrei-me entre gente muito diferente de mim, mas que eram aqueles a quem chamava “os meus”. Eu que me lembrava de espaços vastos e de uma beleza exímia, de recursos sem fim, tive de recriar tudo a partir do feio e do nada, ou quase nada. Fui gradualmente percebendo, no meu esforço pessoal de transcender circunstâncias pouco agradáveis, que é da capacidade criadora e transmutadora do espírito, interpretado pela persona, que tudo nasce, que a obra nasce.
E a obra não pode ser quantificada pelas palavras escritas ou as pinceladas dadas.
A obra são todas as palavras proferidas ou assentes no momento certo, todos os gestos de amor, compaixão, firmeza, todos os actos inovadores.
A obra são as escolhas coerentes e a coragem de as assumir.
São a memória dos seres a quem abracei com o coração, lembrando-lhe a sua origem divina.
Os filhos que gerei, num estádio de adoração pela vida e pelo espírito na matéria incarnado.
Todas as ajudas que proporcionei aos outros e, com isso, ter sido possível manter sonhos alheios, que doutra forma teriam ruído.A obra tem sido saber como fazer quando tudo parece ruir, e renascer das cinzas como a fénix solar, que re-emerge em cada manhã, dos mundos subterrâneos.
A obra tenho vindo a saber como fazê-la, apurando o instinto com o passar da vida e a força da experiência.
Poderá não lhes parecer grande coisa, esta obra, mas é a minha. Faz seguramente sentido num contexto maior, que ultrapassa a nossa limitada dimensão.
Foi a densidade dessa obra que me permitiu reconhecer os seres realmente importantes para mim, independentemente das suas máscaras, e esse acto engrossou-a, abrindo novas perspectivas para a mesma. Estamos demasiado viciados sobre o que deve e não deve ser o quê. Eu sei que a escrita palpita dentro de mim, que é uma energia a que tenho que dar mais espaço.
Mas não a usarei para me demitir da rede em que me situo. Estou atenta, alerta, a aguçar os sentidos – sobretudo os interiores – na aplicação do que já sei e, sobretudo, no levantamento de alguns dos véus que ensombram ainda a minha visão.
Eu vou encontrar o caminho, a saída do que já não se adequa à minha consciência de agora.
Mas quando aquela data final for aposta na minha existência, lembrai-vos todos que a minha obra foi acima de tudo tentar apoiar desde sempre os momentos da história da evolução da consciência no tempo em que por aqui andei. Fi-lo seguramente de forma imperfeita, mas como eu quis, ó céus, ser coerente e verdadeira. Como quis honrar o mandato do espírito e deixar que a obra me utilizasse como mero instrumento para a sua execução.
Hoje, de dentro da minha perplexidade perante a forma redutora como alguns vêm a minha obra, confirmo-vos ser esta a sua natureza e que tal facto me avaliza como Fundadora do PROJECTO Art for All, aquele que nasceu para promover a expansão da consciência através da criatividade.


MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos
Quadros: CATHERINE DE SAUGY

26 agosto 2004

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ANDROGINIA


"...toda a consciência tem de partir da consciência do ser feminino tanto no homem como na mulher, visto haver um desequilíbrio óbvio entre eles, e consequentemente da integração das duas mulheres, só depois desse processo se ter completado é que poderá aparecer uma verdadeira consciência da Consciência, mais pura, que será o fundamento para a consciência do andrógino, que é o único que poderá ter uma ligação directa com o cosmos, com o infinito a que estamos ligados de mil maneiras – somos uma espécie de antenas do cosmos, mas não conseguimos descodificar as mensagens – desconhecidas ainda desta humanidade e de que todas as escrituras falam...
Gostaria que tivesse chegado esse tempo..."


ROSA LEONOR PEDRO, entrevista a Mariana Inverno in ANTES DO VERBO ERA O ÚTERO, edição PROJECTO Art for All, 2003
Escultura: Valentina Pede Boadicea

23 agosto 2004

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DA CONSCIÊNCIA EXTERNA À CONSCIÊNCIA INTERIOR...

“O conhecimento integral admite as verdades válidas de todos os pontos de vista sobre a existência, válidas cada qual no campo que lhe compete; mas busca eliminar as limitações e negações e harmonizar e reconciliar essas verdades parciais, inserindo-as numa verdade maior que preenche as múltiplas facetas do nosso ser na única Existência omnipresente.”


“Não é "discorrendo" sobre a realidade, mas sim mediante uma mudança de consciência, que podemos passar da ignorância ao Conhecimento - o Conhecimento pelo qual nos tomamos o que conhecemos. Passar da consciência externa a uma consciência directa e íntima, interior; alargar a consciência para além dos limites do ego e do corpo; exaltá-la por uma vontade e uma aspiração íntimas, abrindo-a à Luz até que ela ultrapasse a mente na sua ascensão; provocar a descida da Divindade supramental pela doação e pela entrega de si, com a consequente transformação da mente, da vida e do corpo - é esse o caminho que leva à Verdade integral.”


SRI AUROBINDO(1872-1950)

22 agosto 2004

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AMOR INCONDICIONAL, TRAIÇÃO E OUTRAS HISTÓRIAS

Mais valera à tua alma visionária,
Silenciosa e triste ter passado
Por entre o mundo hostil e a turba vária,

(Sem ver uma só flor das mil, que amaste,)
Com ódio e raiva e dor - que ter sonhado
Os sonhos ideais que tu sonhaste!» -


ANTERO DE QUENTAL
Às vezes temos de fazer aprendizagens quase forçadas, desenliar os nós, expor as partes tenras à intempérie, retirando da cena, o q.b., o amor infinito que brota do nosso coração. Singularmente, é para mim o que há de mais difícil neste mundo. Tal como alguém meu amigo costuma dizer, É muito mais difícil identificar o mal (o erro) no bem do que olhar de frente o que é obviamente mau ou errado.
Tenho passado momentos difíceis nestas andanças. Ao que parece, trago de outras vidas a memória inconsciente da traição e do amor incondicional (que tudo abarca: compaixão, dádiva, cumplicidade, partilha de meios, perdão). Se a prática deste último me tem trazido a alegria de ver o outro sorrir, sarar certas feridas e dar passos impossíveis de realizar sem esse apoio, por outro lado tem-me ocasionalmente conduzido a situações de grande sofrimento pessoal onde a grandeza do sentimento que professo e que está subjacente às minhas acções nem sempre se vê honrado pela conduta do outro. Pelo contrário, entre outras coisas, é-me ocasionalmente devolvido um retrato pouco lisonjeador de mim própria, como se a minha intensidade e franqueza fossem calhaus pouco convenientes e indesejáveis no caminho do outro. E, se calhar, até são! Se calhar, este impulso irreprimível de dar sempre uma ajuda, remendar o que está roto, dar, dividir, partilhar, considerar que nada em verdade me pertence e que não passo de um canal para a redistribuição, é aparentado do sindroma de salvatore mundi, da intervenção divina, do “Pai de todos”. Se calhar, é a minha grande patologia!
Tem sido através de muitas lágrimas que venho chegando a este ponto. Pois como sou altamente vulnerável à energia da traição, acabo, ao nível do sentir, por confundir a ingratidão, a falta de amor do outro ou simplesmente a sua própria patologia com o ser atraiçoada.

Enfim, estas são apenas notas. Meio inseguras. Questionáveis. À sombra de mim mesma.

MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos

Quadro: Joana Tavares.

21 agosto 2004

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IMPRENSA E LIBERDADE



Quanto mais importância substantiva e perdurável tiver uma coisa ou pessoa, tanto menos falarão dela os jornais, e, em troca, destacarão nas suas páginas o que esgota a própria essência em ser um «sucesso» e em dar margem a uma notícia.

Ortega y Gasset, in 'O Livro das Missões'


A imprensa é uma grande potência, mas como uma torrente em fúria submerge a planície e devasta as colheitas, da mesma forma uma pena sem controle serve para destruir. Se o controle vem do exterior, o efeito é ainda mais nocivo do que a falta de controle; só pode ser aproveitável se for exercido interiormente.

Mohandas Gandhi, in 'Memórias'


Papel da Imprensa


Onde há mercado há liberdade!
Uma simples análise de diversos casos com valor paradigmático mostra que é exactamente o contrário que por vezes sucede. No campo cultural, por exemplo, é fácil ver que onde há mercado há homogeneização, e, por conseguinte, redução da liberdade de escolha e da liberdade de iniciativa.


Eduardo Prado Coelho in "PUBLICO",20-08-04




19 agosto 2004

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FORCAS CIVILIZACIONAIS

“É óbvio que a nossa civilização sofre de uma doença que nos sentimos incapazes de compreender ou de curar.
Os sintomas da doença foram-se manifestando através da história e desempenharam um papel importante na sua construção; a doença, contudo, foi contrariada por forças regeneradoras – visões de beleza, justiça e conhecimento. O conflito entre as forças destruidoras e as forças exaltadoras da vida, entre a morbidez e a saúde, produziu uma certa dialética da qual emergiram novos sistemas sociais e ideologias. Poderiamos dizer que a morbidez gerou respostas compensatórias – as forças civilizacionais dedicadas à exaltação da vida.
(...)O conhecimento e a tecnologia podem realizar os sonhos e os pesadelos do ser humano.(...) A tecnologia adquiriu a arrogância do poder total – a sua capacidade para destruir não tem limites nem fronteiras, invade todo o planeta e a bioesfera. Embora tenhamos desejado o progresso da tecnologia e desfrutar das suas capacidades produtivas, verificamos agora com horror que ela serve igualmente as forças patológicas da destruição.
(...) A questão fundamental com que hoje nos confrontamos é se as forças regeneradoras e exaltadoras da vida saberão responder com vigor suficiente à doença que ameaça a nossa civilização.”


GEORGE FRANKL, The Archaeology of the Mind
Open Gate Press, London 1992
Tradução: Mariana Inverno

18 agosto 2004

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A EXPRESSAO SEXUAL

A sexualidade é uma frequência.
A capacidade de descobrir quem sois foi deixada intacta, e o caminho para essa descoberta é a experiência sexual. É claro que isso nunca lhes foi ensinado.
A descoberta da frequência mais elevada da sexualidade tem origem no amor. Nada tem a ver se o relacionamento é homo ou heterossexual. Tem a ver com dois seres humanos dando prazer um ao outro e com isso abrindo novas frequências de consciência. Vocês compraram muitas ideias sobre o que é adequado e o que é inadequado na expressão sexual.
O ideal é que a sexualidade seja explorada através dos sentimentos. O terceiro e quarto chakras ligam-vos ao Eu emocional e compassivo, que os liga ao Eu espiritual. O Eu espiritual é a vossa parte multidimensional – através da qual existem em várias formas simultaneamente.






Certas escolas esotéricas guardaram secretamente algum conhecimento sobre o potencial da sexualidade. Vós sois criaturas electromagnéticas e, quando vos unis fisicamente a outra criatura humana, somais as frequências electromagnéticas. Quando as vossas frequências estão sintonizadas e unidas pela vibração do amor, coisas incríveis podem acontecer.”


BARBARA MARCINIAK, Os Mensageiros do Amanhecer
Ed. Ground, São Paulo, 1992

15 agosto 2004

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CHAMA GEMEA

Para ter acesso à multidimensionalidade é necessário a fusão do masculino e do feminino.
As vibrações masculinas chegaram ao poder recentemente, há cerca de cinco mil anos. Para se identificar, provocaram a dissociação total e completa de tudo o que estava no poder: o matriarcado e as mulheres. As mulheres operam tradicionalmente através dos níveis da intuição e do sentimmento. Os homens também eram portadores de intuição e sentimento em diversas épocas, mas nesta recente separação perderam tais qualidades. Houve um grande cisma, que desencadeou um tremendo conflito entre homens e mulheres.
Toda e qualquer separação – entre homem e mulher, brancos e negros, orientais e caucasianos – tem de ser mudada.
Parte da missão que vieram executar no planeta consiste em eliminar o domínio masculino sobre as mulheres.
Vós estais abrindo os vossos centros de sentimento. Os homens costumam ter maiores bloqueios nos seus centros de sentimento do que as mulheres. A energia nos homens está estagnada porque sobe do primeiro para o segundo chakra e pára. O centro do sentimento na vibração masculina não foi activado. Faz parte da experiência dos últimos quatro a cinco mil anos. A energia feminina, que sente, traz vida ao planeta e representa a criatividade, entrou em estado de submissão para dar oportunidade à vibração masculina, que não possui sentimento, de governar o mundo.
Buscamos movimentos de consciência. A energia feminina, portadora da magia e da intuição, concordou em abdicar dessas qualidades – energia feminina significando não apenas os seres fisicamente femininos, mas a consciência feminina.
O movimento patriarcal nos últimos cinco mil anos afastou-se completamente do processo do nascimento para poder dedicar-se ao desenvolvimento de armas e ao contínuo aniquilamento dos seres humanos.


As mulheres estão com um “nó na garganta” porque concordaram, há quatro ou cinco mil anos, manter silêncio acerca da magia e da intuição que representavam e conheciam como parte da chama gémea. A chama gémea consiste na energia masculina e feminina coexistindo num só corpo, quer seja ele fisicamente masculino ou feminino.
Durante este período de mudança, será necessário que as mulheres desatem o “nó da garganta” e se permitam falar. Chegou a hora.


BARBARA MARCINIAK,Mensageiros do Amanhecer
Ed. Ground, São Paulo, 1992

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VIDA DE MIL FACES TRANSBORDANTE



Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordante
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!


SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN (1919-2004)



14 agosto 2004

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O VOO DA AGUIA



Declaro-me consciente de que a minha vida deve ser uma fabulosa aventura criativa!
Penso na lucidez perigosa da Clarice Lispector e colo-me, afoita, ao seu exercício de auto-transcendência. Penso no Don Juan de Castaneda e entra-me uma força que me vem de dentro, do coração das células, pois tudo o que sei que não sei deve estar inscrito aí: uma memória antiga, escondida da minha consciência, à espera da sua hora como um pássaro real pousado firme no rochedo alto – sente a mensagem do ar e tudo ausculta até que seja propício voar...
Passarei pelo fogo e pela água, a minha águia há-de mirar o sol e retornar os olhos intactos sobre o vale celeste onde se preparam os caminhos do futuro. E, na secreta madrugada, descerá a pique, portadora da luz que me pertence...


MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos


13 agosto 2004

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PARECER E SER

Anoitecia com aquela cálida doçura própria do verão alentejano, na hora do recolher de um dia tórrido. Haviamos decidido jantar no terraço de um restaurante em Monsaraz onde o Bill se costuma deleitar com ensopado de borrego. Ainda era cedo e como este ano há menos turistas, o espaço foi inicialmente quase só nosso, o azul profundo do Alqueva a refrescar em silêncio e na distância a misteriosa serenidade da planície alentejana.
O restaurante é dirigido pelo sogro e servido pelo genro, um homem de olhos doces e perna leve que, como por artes mágicas, consegue atender com relativa rapidez as para cima de vinte mesas do local.
Estávamos no melão, que sempre comemos como entrada, quando chegaram três novos personagens. Até então, para além de nós apenas dois casais franceses, jovens e discretos, jantavam entregues a si mesmos, enquanto a noite baixava devagarinho empastando os contornos das coisas, chegado o momento em que parece que as almas se querem abrir a alguma coiSa, talvez na ânsia do que não foi dito e que nunca se alcança.
Os recém-chegados eram obviamente pessoas de fora, um casal de amantes de verão – ele, citadino e morenaço, jeans à la mode, a chave do carro de desporto a tilintar atrevidamente, dependurada dos dedos indolentes; ela, alta e estrangeira (talvez inglesa), os peitos e as nádegas volumosos bem acentuados pelo vestido branco semi-transparente, longa cabeleira loura, arrogante perfil aquilino. O terceiro personagem, uma espécie de pendura, insípido e novinho, também português e incaracterístico ria-se idioticamente, sabe-se lá de quê. Invadiram tudo à sua passagem. O sotaque tipicamente português do morenaço a tentar falar o idioma de Shakespeare, cortava o ar em tom muito alto compatível aliàs com a oitava em que se expressava a companheira, numa conversa tão interessante quanto impossível de reter.
Tudo bem, até aqui. Há muita fauna desta por aí fora. Já se não estranha.
O que prendeu de repente a nossa atenção foi ver o nosso criado, uma criatura gentil e hospitaleira, subitamente envolvido numa violenta discussão com o morenaço. Parece que o argumento girava à volta de uma mesa que os clientes queriam aqui e que o criado achava que devia permanecer acolá. A estrangeira metia a colher, But what does he want? What’s the fuss all about? Let’s do it! E encostava-se ostensivamente ao beiral do varandim, de traseiro insolente espetado na nossa direcção, aparentemente alheada da má impressão causada, pelo menos no nosso caso.
Fútil o pretexto. Como fútil e gratuito é quase tudo o que se passa à superfície da vida. Na realidade, aqueles dois não se altercaram por causa de uma mesa. O embate de energias tão díspares foi o grande responsável.
O nosso criado é um filho da terra, trabalhador, não brinca em serviço. É genuino, ensinaram-lhe com solenidade certas coisas em pequeno, umas boas outras menos boas. Detém uma certa dignidade, lida com os outros com o respeito que lhe parecem merecer, não percebe nada de artifícios. Trabalha com afinco no restaurante do sogro que tem cara de quem não se deixa enganar facilmente.
O morenaço de Lisboa é produto da exaltação das aparências. Aspira com certeza a fazer parte de algum jet set, por mais medíocre que o mesmo possa ser, exibe tiques da moda, um ar meio negligé e ensonado, acessórios de marca a espreitarem de diferentes zonas do veículo físico. Tem namorada estrangeira com quem dialoga em inglês e em voz alta para português ver. Não sei se é rico, suponho que não, faz tudo porém para que o considerem como tal. Discutiu com o criado, mas acabou por se calar. E, bem vista a aparência das coisas, até era capaz de ter razão. Acobardou-se, porém.
Nesta instância, não defendo nem um nem outro dos personagens. Limito-me a testemunhar aquilo que os olhos vêm e a especular sobre o que não vêm. Assim é a vida. Passa diante de nós, falseada a nossa percepção pelos códigos morais e de bons costumes que a civilização nos forneceu.
Parece-me que há muita distorção, muito tempo e energia perdidos na forma como pensamos e actuamos. Esquecemo-nos de sentir! A mente racional e lógica ocupa demasiado espaço nas nossas vidas.
Urgente religarmo-nos ao sentimento. E tentar perceber o que é quê, e quem é quem, no emaranhado da existência.


MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos
Quadro: Edvard Munch, 1896

12 agosto 2004

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O SER GUERREIRO ESPIRITUAL

Se alguns de vós activaram as vossas memórias xamanísticas, sabem muito bem que grande parte dos ensinamentos desses povos consiste em deslocar-se dentro de várias realidades e mudar de forma. Os xamãs destas culturas nativas eram reverenciados por possuirem essa capacidade. Eles eram portadores do código genético e constituíam uma pequena minoria em relação à população inteira do planeta. Preservavam a magia e o mistério, mantendo vivo o processo. Eram capazes de se transformar em animais e assumir várias outras formas. Dominavam uma ciência de grande amplitude.

BARBARA MARCINIAK, Os Mensageiros do Amanhecer,
Ed. Ground, São Paulo, 1992


CARLOS CASTANEDA deixa-nos o legado de Don Juan:

Só escolhemos uma vez. Escolhemos ser guerreiros ou gente comum. Não existe uma segunda oportunidade de escolha. Não nesta Terra.

Todos podemos ver, contudo optamos por não nos lembrarmos do que vemos.

THE SECOND RING OF POWER


O guerreiro relaxa-se e entrega-se ao abandono; nada teme. Só assim os poderes que guiam os seres humanos podem abrir o caminho para o guerreiro e ajudá-lo. Só então.

THE EAGLE’S GIFT


O maior inimigo do ser humano é a auto-importância. Aquilo que o enfraquece é sentir-se ofendido pelos feitos e malfeitos do seu próximo. A auto-importância exige que passemos a maior parte da nossa vida ofendidos por alguém ou algo.

O desconhecido está sempre presente, mas fora da possibilidade da nossa percepção normal. O desconhecido é a parte supérflua do ser humano comum. E é supérfluo porque o ser humano comum não possui suficiente energia livre para o agarrar.

O potencial do ser humano é tão vasto e misterioso que os guerreiros, em vez de pensarem nele, escolheram explorá-lo sem esperança de alguma vez o compreenderem.


O espírito só escuta quando aquele que fala se expressa por meio de gestos. E gestos não significam sinais ou movimentos do corpo, mas actos de verdadeiro abandono, actos de abertura, de humor. Como gesto para o espírito, o guerreiro traz à superfície o melhor de si mesmo e, silenciosamente, oferece-o ao abstracto.

THE WHEEL OF TIME

Tradução de Mariana Inverno

11 agosto 2004

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CLARICE PIONEIRA

Assim acontece com a palavra que sai da minha boca: ela não volta para mim sem efeito, sem ter cumprido a missão para qual eu a mandei.
Isaías, 55:11


Eu tenho à medida que designo - e este é o esplendor de se ter uma linguagem. Mas eu tenho muito mais à medida que não consigo designar. A realidade é a matéria-prima, a linguagem é o modo como vou buscá-la - e como não acho. Mas é do buscar e não achar que nasce o que eu não conhecia, e que instantaneamente reconheço. A linguagem é o meu esforço humano. Por destino tenho que ir buscar e por destino volto com as mãos vazias. Mas volto com o indizível. O indizível só me poderá ser dado através do fracasso da minha linguagem.
Só quando falha a construção, é que obtenho o que ela não conseguiu.



Não posso ficar olhando demais um objeto senão ele me deflagra.
Mais misteriosa do que a alma é a matéria. Mais enigmática que o pensamento, é a “coisa”. A coisa que está às mãos milagrosamente concreta.


CLARICE LISPECTOR


10 agosto 2004

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LYA LUFT O Olhar da Mulher Madura

É sexagenária e avessa a tudo aquilo que hoje conduz à fama e à notoriedade. O êxito do seu último livro, PERDAS E GANHOS, ultrapassa já os do Harry Potter.
A seguir, um cheirinho de Lya Luft, uma mulher brasileira anunciadora de um novo tempo, o da mulher completa, o do ser humano de consciencia mais alargada.


"Não existe isso de homem escrever com vigor e mulher escrever com fragilidade. Puta que pariu, não é assim. Isso não existe. É um erro pensar assim. Eu sou uma mulher. Faço tudo de mulher, como mulher. Mas não sou uma mulher que necessita de ajuda de um homem. Não necessito de proteção de homem nenhum. Essas mulheres frageizinhas, que fazem esse gênero, querem mesmo é explorar seus maridos. Isso entra também na questão literária. Não existe isso de homens com escrita vigorosa, enquanto as mulheres se perdem na doçura. Eu fico puta da vida com isso. Eu quero escrever com o vigor de uma mulher. Não me interessa escrever como homem."

Em entrevista a Paulo Eduardo de Vasconcellos, na revista "Veredas", ao ser perguntada sobre o que é seu novo livro, respondeu: "Não sei. Começo exatamente perguntando que livro é este. Não é um ensaio porque não sou acadêmica. Não é ficção porque não é inventado. É o resultado de idéias que vão surgindo, de novas linguagens, novas coisas a serem ditas, mas ainda sem nome. Não sei o que é. É pensamento talvez, não sei explicar. A semente foi uma vontade de escrever sobre a maturidade. Vivemos numa sociedade que por um lado tem coisas dramáticas e trágicas, e por outro está imbuída de uma futilidade angustiante. Não só das mulheres na busca da eterna juventude — algo pobre, triste. As pessoas passam a não saborear os 40 anos, os 60, têm pavor dos 70, aos 80 já gostariam de ter morrido. São como um carro rodando com os faróis voltados para trás."
Extraído do livro "Perdas & Ganhos", Editora Record - Rio de Janeiro, 2003, pág. 12.

"Na ambição de serem sempre jovens, as mulheres acabam perdendo o próprio rosto. São os falsos mitos da juventude para sempre. E isso também inclui a febre atual da mídia, particularmente nas revistas femininas. Só se fala como se pode ter vários orgasmos numa única noite. Só se fala em como a mulher deve agir para segurar seu homem pelo sexo, especialmente o oral. São fórmulas de um mundo conturbado, que foge ao afeto, distante de qualquer felicidade. Essa é outra coisa para o enlouquecimento. Em todo lugar, o que existe é a supervalorização do sexo. Quem não estiver fazendo sexo sem parar o tempo todo passa a ser anormal. Muita gente fica complexada porque não consegue vários orgasmos numa noite. É tudo uma imposição".

"Tento entender a vida, o mundo e o mistério e para isso escrevo. Não conseguirei jamais entender, mas tentar me dá uma enorme alegria. Além disso, sou uma mulher simples, em busca cada vez mais de mais simplicidade. Amo a vida, os amigos, os filhos, a arte, minha casa, o amanhecer. Sou uma amadora da vida. O que você nunca vai esquecer? Escutar o vento e a chuva nas árvores do imenso jardim que cercava a casa de meu pai, na minha infância".




"Não escrevo porque “valha a pena”, mas porque me faz feliz, simplesmente".

"Deus eu imagino como força de vida: luminosa, positiva, imperscrutável".

"Não tenho nenhuma religião instituída, mas tenho uma profunda visão “religiosa”, sagrada, da natureza, das pessoas, do outro".


Poesia de LYA LUFT

Entre amiga e amada
Esta parede aérea, vidro
De circunstancias que a gente inventa
E desfaz.
Entre duas praias quase iguais
O coração viaja:
Eu-farol aceso em cada lado-
Sou as duas sendo uma
E assim existo mais.
Descobrimos talvez que o mar
- sendo maior que nós-
não faz tanta diferença




BIBLIOGRAFIA
- Canções de Limiar, 1964
- Flauta Doce, 1972
- Matéria do Cotidiano, 1978
- As Parceiras, 1980
- A Asa Esquerda do Anjo, 1981
- Reunião de Família, 1982
- O Quarto Fechado, 1984
- Mulher no Palco, 1984
- Exílio, 1987
- O Lado Fatal, 1989
- O Rio do Meio, 1996
- Secreta Mirada, 1997
- O Ponto Cego, 1999
- Histórias do Tempo, 2000
- Mar de dentro, 2000
(todos os livros foram publicados pelas Edições Siciliano e Mandarim, São Paulo (SP)).
- Perdas e ganhos, 2003 - Editora Record

06 agosto 2004

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CRÓNICA DOS TEMPOS NOVOS



Try to have done now
with the provocations and the state statistics,
the Sunday breakfasts and incinerators…
Leave this behind and have done
with party preparations and market analyses,
because it is late
it is much too late,
have done and come home
to the silence afterwards…
The silence
that lies like a baby bird between your hands,
your only friend.

ROLF IACOBSEN



Li com carinho, recentemente, um artigo de um amigo que muito estimo sobre os novos tempos que estamos vivendo. Este meu amigo é um homem dinâmico, criativo, muito ligado às coisas concretas da vida, aos resultados palpáveis. Tem um perfil de vencedor e, em consequência, professa grande admiração por quem vence na vida. No seu artigo, a estourar de dinamismo, mete num mesmo saco Miró, Gaudi, Bill Gates e Champalimaud, entre outros. Fala do espirito inventivo e arrojado comum a todos estes personagens e da necessidade (inegável) das pessoas se manterem permanentemente actualizadas sobre as novas tecnologias e “viver entusiàsticamente este período fantástico de mudança”, contribuindo assim para a criação de riqueza.

Creio conhecer relativamente bem este meu amigo e, embora enternecida com a sua esfusiante determinação e gosto pelo trabalho, fiquei a pensar mais uma vez se, a par de muitos outros males, a grande tragédia dos nossos novos tempos não será exactamente esta atitude stressada do indivíduo a correr atrás da máquina que inventou para o servir mas que lhe serve de pretexto para escapar de si mesmo e do que interiormente o possa perturbar. O indivíduo continuadamente em corrida, escravo da competição, profundamente empenhado em…vencer na vida!
Estou certa que o meu amigo, como homem inteligente e sensível que é, já se deve ter posto as seguintes questões: Que é vencer? Quem são realmente os vencedores? Aonde nos conduz a chamada vitória, quando ela representa apenas criação de riqueza material?
Justamente as novas tecnologias poem todos os dias debaixo dos nossos olhos o retrato inequívoco do que se passa neste mundo nosso e novo, um mundo indubitavelmente em profunda e inovadora transformação das suas estruturas operacionais visíveis mas onde o indivíduo vai sendo cada vez mais relegado para a posição de parafuso, manipulado por uma engrenagem que transcende a sua vontade e, portanto, o abafa. Torna-se mesmo chocante o isolamento e insignificância do homem numa sociedade onde os valores do espírito perderam força - e onde são mesmo frequentemente ridicularizados - onde cada um vale pela forma como o seu veículo físico corresponde a standards estereotipados de beleza e juventude e pelo poder material de que dispõe. É a sociedade do narcisismo e de todas as profanações, onde o sexo se tornou o substituto do Amor e dos seus mistérios. Sexo pelo sexo e no qual absurdamente esperamos encontrar os preciosos valores da intimidade e da compensação afectiva.Sem tempo para um trabalho de fundo sobre os seus sentimentos e inclinações, o homem cala a voz da alma e vive pela rama porque não se pode dar ao luxo de sentir e assumir consequentemente o que se passa no seu interior. Assim, como apenas arranha a superfície das coisas, tudo é passageiro, pouco profundo na vida deste ser do nosso tempo, deste ser sem tempo cujo sorriso, esperança, força interior são alimentados por um cheque bancário. Precisa consumir sempre mais e crescer materialmente para sentir que venceu e que a sua vida tem sentido. Acaba, regra geral, só e frustrado, esquecido de como questionar o que o consome.

Creio que a grande questão de fundo é a forma como aplicamos a nossa criatividade. É que, ainda que a nível da persona tenhamos os traços mais arrojados e dinâmicos, se não efectuarmos pelo menos com algum sucesso a chamada viagem interior, se não mergulharmos com coragem e inusitada humildade nesse universo assombroso a que alguns chamam alma e onde vivem símbolos e lembranças que ainda não decifrámos, referências da experiência pessoal e transpessoal, não passaremos de cadáveres adiados, servindo com patética devoção a matéria do nosso veículo físico e os seus caprichos, os quais promovemos escandalosamente à categoria de “aquilo que somos”.
Começa por doer, é certo. Tentar compreender por é que nos sentimos sós se estamos rodeados de gente, telefonemas, entrevistas, negócios e, às vezes, da fragrância do sucesso, atinar com o motivo pelo qual despertamos continuadamente num estado de angústia se as coisas “até vão indo e a construção da riqueza se vai fazendo”, ouvir e ter a coragem de respeitar os apelos interiores tão frequentemente contrários às nossas conveniências e à estabilidade da nossa vidinha assente nos referenciais de sempre e que nos dão uma estagnada impressão de segurança, tudo isto representa uma espécie de parto da consciência, muitas vezes sangrento e demorado, o qual se faz acompanhar de dôr profunda. É, no entanto, a prova iniciática sine qua non, pela qual temos inevitavelmente que passar se quisermos ser uma humanidade liberta e em evolução.
A riqueza exterior falseia a realidade se não tiver como contrapartida uma vida interior assente numa postura humilde mas corajosa perante o sonho, o sagrado e o misterioso. Tal como as crises convivem com as grandes oportunidades, assim tambem o que nos destabiliza não é necessariamente nosso inimigo. Pelo contrário. São as vozes de papagaio - bajuladoras dos nossos egos, repetindo ad nauseam o coro de lisonjas que nos vai mantendo agradados - um dos principais obstáculos a que o espírito livre e inovador que habita cada ser humano possa manifestar-se e realmente …criar.

O meu amigo tem muita razão. É preciso viver consequentemente este tempo fabuloso onde grandes perspectivas se abrem no domínio das trecnologias.
Cuidemo-nos, porém, no salto!
Pouco preparado para o relativo poder que as grandes tecnologias lhe vêm aportando, o ser humano vira cada vez mais as costas a si próprio. Apoiado na arrogância da sua mente, crê que o caminho para a liberdade última a que tanto aspira é a prepotência, o controle. Tem vindo a perder noções de amor e de espírito e deixou que se esvaíssem nas brumas do esquecimento as grandes e arquetípicas verdades universais.
A ascensão da humanidade, o seu emergir do obscurantismo de ideais em que se encontra só poderá provavelmente fazer-se através de muita dor. Já é mais do que evidente que estamos entrando numa viragem dos tempos e que se impõe um salto mental universal e humanista.
Tudo é, porém, síncrono, tudo obedece a ciclos cósmicos, tudo é movimento neste Universo de intenção evolutiva inteligente. A mente humana precisa urgentemente de se abrir à mensagem cósmica de expansão mental, de universalidade, para ser capaz de destruir a cristalização da velha ordem, do paradigma obsoleto que a leva a servir o deus que melhor a compensa em termos materiais.
Talvez tenhamos que chegar ao limite da dor e da violência, ao equívoco máximo, para que, da noite escura do nosso sofrimento, aprendamos a abrir o coração, a confrontar os nossos medos e a entender que só o Amor salva. Que antes da máquina, do avanço das tecnologias, do negócio - que devemos sem dúvida cuidar pois são necessários ao bom funcionamento da nossa realidade tangível - tem de vir esse silêncio maior, esse bálsamo que advem de não ter horizontes, de evadir as regras estabelecidas e os premeditados jogos de conveniência e redescobrir o encantamento perante a magnífica simplicidade da Vida .
Nesse silêncio, em sintonia com a mente universal, talvez nos possamos acercar da paz e do sentido oculto da existência .
Para podermos, na hora inescapável, regressar serenamente ao silêncio original.

MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos


Quadro acima: SALVADOR DALI
Quadro à direita: SONIA MELLO

05 agosto 2004

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CARTA ABERTA ÀS ALMAS DESCRIMINADAS



E se nunca mais esclarecesses nada?

Se da tua boca não saísse a justificação que te credibiliza e caminhasses apenas, assim como eu, com os teus olhos plenos e o ignorar da pequenez alheia?
Se erguesses a cabeça, lunar e nobre, e a mantivesses aí nesse ponto de não recuo, sem hesitações, consciente de que te sentas à direita da Deusa Mãe, sabedora de que aqueles que precisam de explicações dormem ainda o sono drogado do desequilíbrio e da morte em vida?

Não vês que te não crêem, que cozinham o que dizes com os fétidos venenos dos seus medos? Que reinventam a história, a adornam dos próprios atavios e ela circula como uma bolha de ar esverdeada e esquálida a angariar apêndices por onde passa?

E se não falasses mais, se não contasses a ninguém que tu só sabes amar e querer bem, e redimir, só pretendes iluminar o escuro, restituir dignidade, reintegrar o que era uno e deixou de o ser?
Se fosses, somente. Se dos teus lábios, antigos e firmes, saísse apenas a palavra dos tempos que passam, o sábio amor do agora, segura e deslizante como um ar sem mancha?
Quer queiras, quer não, tu não és para todos. Em larga medida, nem és deste mundo, opaco e cambaleante. Fala o teu ser de um futuro que quase ninguém ainda vislumbra.
Se não reconhecem a tua alma quando te olham, por que esperas que as palavras compostas, ajustadas, diluam as suspeitas?

No que me toca, caminharei por ti com olhos claros, erguida sobre o mundo, co-portadora da mensagem que transportas.
Se alguém estranhar, se me interpelarem por ti, devolvo-lhes inteiras, nas pétalas de uma rosa, as suas próprias palavras para que as decifrem.

Chegou o tempo, a hora da mudança. Temos tanto que fazer...
Sem saber, fui através do sempre, preparando o meu jardim de amor e luz...
Encontra nele a fonte da tua paz, da tua merecida quietude.


MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos


01 agosto 2004

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C O R R E D O R

"A vida é um corredor que para mim tem as portas fechadas. Todas as portas pesadamente fechadas. E no entanto continuo a andar. Tenho continuado sempre a andar, com medo no escuro. Depois da Queda o homem não se devia ter escondido. Agora é em, vão que se procura nos outros e em si. Apenas um ou outro vive e morre com o seu mundo à parte redondo e fechado. A maioria nem sequer se chega a procurar a sério e quando se procura raramente se encontra e mesmo assim é sempre com surpresa e espanto e desengano. O que no fim se encontra não é o que se procurava no princípio."

YVETTE CENTENO, As Palavras Que Pena
Ed. Ática, 1972

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