ORDEM NASCENTE

Textos poéticos e filosóficos sobre a ordem nascente
A ordem nascente é ainda elusiva e periclitante. São muitos os profetas apocalípticos que auguram o fim dos tempos, e assim alimentam o medo no ser humano, facto que não pode bem servir a humanidade. Mas há, sem dúvida, crescentes indícios, vestígios, sinais que auguram o fim de um tempo, o ruir das estruturas... MARIANA INVERNO

31 maio 2004

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TOQUES DE ETERNIDADE



É espantoso ver a que ponto os momentos mais mágicos das nossas existências não nos deixam muitas vezes habitar plenamente os nossos corpos! Engolem-nos...Será talvez assim que se inscrevem em nós essas palavras invisíveis que nos guiam até ao fim dos Tempos.

DANIEL MEUROIS-GIVAUDAN,Louis du Désert
Ed. Le Pérsea, 2001
Tradução: Mariana Inverno


HAIKU
A grandeza da Simplicidade







Demorou este ano
Mas de repente, em toda a parte -
Primavera!


Paulo Franchetti










fugiu-me da mão
no vento entre folhas secas
a carta esperada


Aníbal Beça










Por que estás assim,
violeta? Que borboleta
morreu no jardim?


Guilherme de Almeida




27 maio 2004

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Encontrei no MULHERES & DEUSAS este importante pensamento de Fernando Pessoa, alma amada...



TRABALHAMOS PELA NOVA FÉ
É por isso que, sabendo nós que, actualmente, o cristianismo é o velho, o decadente, a esterilidade e o inútil – nós, conquanto não saibamos claramente, nem nitidamente prevejamos o que se lhe seguirá, temos ainda assim a consciência de que , atacando-o trabalhamos pela nova fé; (...) preparamos o terreno para o edifício novo; que, arrancando as plantas que degeneram em bravias, nós deixamos o lugar livre para a semente que germinará em planta, para no fim, degenerar também em bravia (...), e ser arrancada por outros, para que outras plantas novas nasçam, e assim indefinidamente e incompreensivelmente no suceder-se dos séculos, e em favor do mystério infinito.

in "Pessoa por conhecer - Roteiro para uma Expedição" de Teresa Rita Lopes
Quadro: Catherine de Saugy

21 maio 2004

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PENSAMENTO E MANIFESTAÇAO

...sois os operários das Pontes e das Calçadas. Sim, vós simplesmente ergueis as pontes entre vós e o sol, entre o vosso pensamento e a matéria e como esta instalação é delicada e complexa é necessário muito tempo. Mas uma vez a instalação terminada, vereis como tudo funcionará!


Aconselho-vos a não embarcar em exercícios de magia. Este saber que nós possuímos devemos aplicá-lo somente num trabalho que valha a pena e que seja verdadeiramente importante para o futuro da humanidade. E visto que agora sabeis que cedo ou tarde o pensamento se manifesta, deveis aumentar a vossa esperança, a vossa coragem, e sobretudo não esperar resultados imediatos. Se contardes com resultados imediatos, sentir-vos-eis desiludidos, desencorajados, abandonareis tudo e é pena.

Trabalhai com o poder do pensamento, mas bem alto, pedindo as melhores coisas para a vossa evolução e a do mundo inteiro. Assim, obtereis sempre resultados...
E em seguida armai-vos de paciência e aguardai...


OMRAAM MIKHAEL AIVANHOV, Comment La Pensée se Réalise dans la Matière, Editions PROSVETA, 1988

Tradução de Mariana Inverno

19 maio 2004

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ACONTECIMENTOS SIMULTANEOS



Considera quantas coisas, no mesmo instante infinitesimal, se produzem simultaneamente em cada um de nós, tanto no domínio do corpo como no da alma. Por isso te não surpreenderá que muitos mais acontecimentos se produzam, ou antes, que eles se produzam todos a um tempo, no ser simultaneamente único e universal a que chamamos mundo.

MARCO AURELIO,PENSAMENTOS
Quadro por: GISELE MORANTON,1997

11 maio 2004

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A NOVA CONSCIÊNCIA



"Um mestre não é um Deus, um instrutor não deve ser adorado, devem simplesmente ser respeitados e amados, mas para que isso aconteça é preciso primeiro que o ser humano saiba que a imperfeição faz parte da rota de cada um, sem vergonha nem culpabilidade.

...os humanos gostam de se contar belas histórias. Os humanos não se amam, do mesmo modo que não amam as suas vidas frequentemente sem grande interesse por falta de coragem. Vivem como prisioneiros...dos seus medos, emoções, pulsões e chamam a isso “amor”. Então para sairem dessa angústia que tantas vezes os habita, preferem sonhar com gloriosas incarnações passadas, com vidas noutros planetas ou ainda que esta incarnação é a última de uma curta série, só para respirarem um pouco melhor sem saberem que esta ilusão os torna ainda e crescentemente mais aprisionados.

Na Terra, cada sete anos o ser humano renova os seus diferentes corpos e até o próprio sangue, contendo as memórias de emoções e pulsões passadas e pode, consequentemente, beneficiar dessa mudança. Nesse preciso momento, é-lhe possível crescer e tornar-se outro. Os humanos não imaginam como mudam e se modificam profundamenteao longo de uma simples vida. Deixam de ser os mesmos e por vezes isso cria estranhos reajustamentos entre eles e os seus próximos que não avançam ao mesmo ritmo.

AMOR INCONDICIONAL

Isso(amor incondicional) corresponde à memória de uma Terra ideal mas para abrir as portas da alma de modo incondicional, é preciso sobretudo não nos contarmos histórias. Amar incondicionalmente, sem esperar retorno, é uma forma de crescer muito rapidamente mas a ingenuidade não pode fazer parte desse crescimento. Acreditar que tudo é bom é um pensamento ingénuo, saber que tudo é justo é uma prova de maturidade. Percepcionar o melhor no outro é um acto de amor, não aceitar as suas falhas representa uma fraqueza.


ROBERTO VENOSA

Cada humano está ligado a todos os outros humanos mas não o sabe, já o não sente. Os seus sentidos atrofiados, adormecidos, já não lhe permitem sentir-se unido a toda a humanidade. Contudo, sempre que um ser sofre na Terra ou algures, os corpos subtis de cada um, individualmente, recebem e percepcionam o choque. Nenhum instante de alegria, nenhuma onda de mágoa se perdem. Repercutem-se de uma forma tão subtil que os corpos guardam a respectiva memória até nas partículas mais ínfimas.
O humano está permanentemente habitado pelas alegrias e mágoas, pelos êxitos e fracassos de todos os habitantes da Terra. O esquecimento não reduz o correspondente efeito e, quanto mais o ser humano reencontrar as capacidades de o sentir e percepcionar, mais reconquistará a rota da consciência a despertar, aquela que conduz à verdadeira felicidade.


Os humanos recomeçam justamente agora a tomar consciência da fabulosa energia que pode irradiar de um local ou de um edifício construído de acordo com a grande Vida, com as energias do Céu e da Terra, com o acorde dos sons e dos nomes, com o poder das estrelas. Esse saber, outrora conhecido no planeta Terra foi retirado temporariamente, por receio que a sede de poder dos humanos acabasse por destruir tudo. Um Conhecimento não tem em si mesmo energia positiva ou negativa, cabe ao ser que o utiliza imprimir-lhe a nota."

ANNE GIVAUDAN, Walk-In La Femme qui changea de corps
Editions S.O.I.S., 2001

Tradução de MARIANA INVERNO

03 maio 2004

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JANELA PESSOANA



A dignidade da inteligência está em reconhecer que é limitada e que o universo está fora dela. Reconhecer, com desgosto próprio ou não, que as leis naturais se não vergam aos nossos desejos, que o mundo existe independentemente da nossa vontade, que o sermos tristes nada prova sobre o estado moral dos astros, ou até do povo que passa pelas nossas janelas: nisto está o vero uso da razão e a dignidade racional da alma.

FERNANDO PESSOA, A Educação do Estóico


Se alguma coisa há que esta vida tem para nós, e, salvo a mesma vida, tenhamos que agradecer aos Deuses, é o dom de nos desconhecermos: de nos desconhecermos a nós mesmos e de nos desconhecermos uns aos outros. A alma humana é um abismo obscuro e viscoso, um poço que se não usa na superfície do mundo. Ninguém se amaria a si mesmo se deveras se conhecesse, e assim, não havendo a vaidade, que é o sangue da vida espiritual, morreríamos na alma de anemia. Ninguém conhece outro, e ainda bem que o não conhece, e, se o conhecesse, conheceria nele, ainda que mãe, mulher ou filho, o íntimo, metafísico inimigo.

FERNANDO PESSOA, O Livro do Dessassossego

01 maio 2004

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POR DETRÁS DE MIM MESMA




LEONOR FINI

Não sei o que me assalta, hoje em dia.
Estou contente, logo triste.
A minha alma anseia pela graça e tudo reviro na ânsia de a encontrar. É, contudo, no estar quieta que ela melhor percorre o interior das minhas células, aliviando-me de todos os pesos, mesmo do de estar viva. Fico ensimesmada a pensar no motivo de tantos altos e baixos, eu que fui sempre uma criatura na aparência estável e equilibrada. Gosto e deleito-me em todas as coisas que em geral encantam o género humano: flores, crianças, ternura, afectos, boas comidas, fragrâncias, beleza, sonho, canto, música...
Mas há um sítio-estádio onde nada disso parece contar muito. Difícil descrevê-lo, complicado alcançá-lo...É como os meus olhos a olharem para dentro de si mesmos, é como se por detrás de mim estivesse eu mesma e para o nosso diálogo não tivesse sido achada por ora a palavra justa.
Portais a abrirem-se, certezas totais moldáveis como um plasma, choro, dádiva, dúvida sistemática recorrente como a estação fria em cada ano, solidão, união, ausência...
Triste ou contente, resisto mais. De algum modo, sou mais vezes e por mais tempo a que está por detrás de mim mesma. Amparo-me nesse facto.


MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos

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