ORDEM NASCENTE

Textos poéticos e filosóficos sobre a ordem nascente
A ordem nascente é ainda elusiva e periclitante. São muitos os profetas apocalípticos que auguram o fim dos tempos, e assim alimentam o medo no ser humano, facto que não pode bem servir a humanidade. Mas há, sem dúvida, crescentes indícios, vestígios, sinais que auguram o fim de um tempo, o ruir das estruturas... MARIANA INVERNO

10 agosto 2004

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LYA LUFT O Olhar da Mulher Madura

É sexagenária e avessa a tudo aquilo que hoje conduz à fama e à notoriedade. O êxito do seu último livro, PERDAS E GANHOS, ultrapassa já os do Harry Potter.
A seguir, um cheirinho de Lya Luft, uma mulher brasileira anunciadora de um novo tempo, o da mulher completa, o do ser humano de consciencia mais alargada.


"Não existe isso de homem escrever com vigor e mulher escrever com fragilidade. Puta que pariu, não é assim. Isso não existe. É um erro pensar assim. Eu sou uma mulher. Faço tudo de mulher, como mulher. Mas não sou uma mulher que necessita de ajuda de um homem. Não necessito de proteção de homem nenhum. Essas mulheres frageizinhas, que fazem esse gênero, querem mesmo é explorar seus maridos. Isso entra também na questão literária. Não existe isso de homens com escrita vigorosa, enquanto as mulheres se perdem na doçura. Eu fico puta da vida com isso. Eu quero escrever com o vigor de uma mulher. Não me interessa escrever como homem."

Em entrevista a Paulo Eduardo de Vasconcellos, na revista "Veredas", ao ser perguntada sobre o que é seu novo livro, respondeu: "Não sei. Começo exatamente perguntando que livro é este. Não é um ensaio porque não sou acadêmica. Não é ficção porque não é inventado. É o resultado de idéias que vão surgindo, de novas linguagens, novas coisas a serem ditas, mas ainda sem nome. Não sei o que é. É pensamento talvez, não sei explicar. A semente foi uma vontade de escrever sobre a maturidade. Vivemos numa sociedade que por um lado tem coisas dramáticas e trágicas, e por outro está imbuída de uma futilidade angustiante. Não só das mulheres na busca da eterna juventude — algo pobre, triste. As pessoas passam a não saborear os 40 anos, os 60, têm pavor dos 70, aos 80 já gostariam de ter morrido. São como um carro rodando com os faróis voltados para trás."
Extraído do livro "Perdas & Ganhos", Editora Record - Rio de Janeiro, 2003, pág. 12.

"Na ambição de serem sempre jovens, as mulheres acabam perdendo o próprio rosto. São os falsos mitos da juventude para sempre. E isso também inclui a febre atual da mídia, particularmente nas revistas femininas. Só se fala como se pode ter vários orgasmos numa única noite. Só se fala em como a mulher deve agir para segurar seu homem pelo sexo, especialmente o oral. São fórmulas de um mundo conturbado, que foge ao afeto, distante de qualquer felicidade. Essa é outra coisa para o enlouquecimento. Em todo lugar, o que existe é a supervalorização do sexo. Quem não estiver fazendo sexo sem parar o tempo todo passa a ser anormal. Muita gente fica complexada porque não consegue vários orgasmos numa noite. É tudo uma imposição".

"Tento entender a vida, o mundo e o mistério e para isso escrevo. Não conseguirei jamais entender, mas tentar me dá uma enorme alegria. Além disso, sou uma mulher simples, em busca cada vez mais de mais simplicidade. Amo a vida, os amigos, os filhos, a arte, minha casa, o amanhecer. Sou uma amadora da vida. O que você nunca vai esquecer? Escutar o vento e a chuva nas árvores do imenso jardim que cercava a casa de meu pai, na minha infância".




"Não escrevo porque “valha a pena”, mas porque me faz feliz, simplesmente".

"Deus eu imagino como força de vida: luminosa, positiva, imperscrutável".

"Não tenho nenhuma religião instituída, mas tenho uma profunda visão “religiosa”, sagrada, da natureza, das pessoas, do outro".


Poesia de LYA LUFT

Entre amiga e amada
Esta parede aérea, vidro
De circunstancias que a gente inventa
E desfaz.
Entre duas praias quase iguais
O coração viaja:
Eu-farol aceso em cada lado-
Sou as duas sendo uma
E assim existo mais.
Descobrimos talvez que o mar
- sendo maior que nós-
não faz tanta diferença




BIBLIOGRAFIA
- Canções de Limiar, 1964
- Flauta Doce, 1972
- Matéria do Cotidiano, 1978
- As Parceiras, 1980
- A Asa Esquerda do Anjo, 1981
- Reunião de Família, 1982
- O Quarto Fechado, 1984
- Mulher no Palco, 1984
- Exílio, 1987
- O Lado Fatal, 1989
- O Rio do Meio, 1996
- Secreta Mirada, 1997
- O Ponto Cego, 1999
- Histórias do Tempo, 2000
- Mar de dentro, 2000
(todos os livros foram publicados pelas Edições Siciliano e Mandarim, São Paulo (SP)).
- Perdas e ganhos, 2003 - Editora Record

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