CARTA ABERTA ÀS ALMAS DESCRIMINADAS
E se nunca mais esclarecesses nada?
Se da tua boca não saísse a justificação que te credibiliza e caminhasses apenas, assim como eu, com os teus olhos plenos e o ignorar da pequenez alheia?
Se erguesses a cabeça, lunar e nobre, e a mantivesses aí nesse ponto de não recuo, sem hesitações, consciente de que te sentas à direita da Deusa Mãe, sabedora de que aqueles que precisam de explicações dormem ainda o sono drogado do desequilíbrio e da morte em vida?
Não vês que te não crêem, que cozinham o que dizes com os fétidos venenos dos seus medos? Que reinventam a história, a adornam dos próprios atavios e ela circula como uma bolha de ar esverdeada e esquálida a angariar apêndices por onde passa?
E se não falasses mais, se não contasses a ninguém que tu só sabes amar e querer bem, e redimir, só pretendes iluminar o escuro, restituir dignidade, reintegrar o que era uno e deixou de o ser?
Se fosses, somente. Se dos teus lábios, antigos e firmes, saísse apenas a palavra dos tempos que passam, o sábio amor do agora, segura e deslizante como um ar sem mancha?
Quer queiras, quer não, tu não és para todos. Em larga medida, nem és deste mundo, opaco e cambaleante. Fala o teu ser de um futuro que quase ninguém ainda vislumbra.
Se não reconhecem a tua alma quando te olham, por que esperas que as palavras compostas, ajustadas, diluam as suspeitas?
No que me toca, caminharei por ti com olhos claros, erguida sobre o mundo, co-portadora da mensagem que transportas.
Se alguém estranhar, se me interpelarem por ti, devolvo-lhes inteiras, nas pétalas de uma rosa, as suas próprias palavras para que as decifrem.
Chegou o tempo, a hora da mudança. Temos tanto que fazer...
Sem saber, fui através do sempre, preparando o meu jardim de amor e luz...
Encontra nele a fonte da tua paz, da tua merecida quietude.
MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos
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