TURISMO GALÁCTICO
O britânico Sir Richard Branson, fundador de VIRGIN, anunciou há dias a criação de mais uma unidade a acrescentar ao seu cada vez mais diversificado grupo: a VIRGIN GALACTIC. Esta nova empresa propõe-se realizar os primeiros voos comerciais para o espaço, já no ano de 2007. Como em tudo o resto, inicialmente os bilhetes para estas aventuras espaciais sairão a preços proibitivos para quase toda a humanidade terrestre: £ 115,000 (c. € 173,000, ou seja, qualquer coisa como 35.000 contos), por cabeça. Não são ainda conhecidos detalhes sobre o que este valor poderá cobrir para além do assento na máquina voadora.
Já começaram as reacções, muitas mais se sucederão. Em linhas gerais, as críticas andam sempre à volta de todos os problemas que temos aqui na terra e que devemos solucionar antes de nos aventurarmos em expedições turísticas ao espaço.
Compreensível. E legítima, a preocupação.
Mas, será que a caminhada humana pode alguma vez seguir uma linha totalmente lógica e que cada nova etapa de desenvolvimento se siga a outra cujos problemas ficam todos resolvidos?
Mais do que as aventuras galácticas de Sir Richard Branson e do facto de alguns dos ricos deste mundo irem em breve dispender uma pequena fortuna nas suas passeatas pelo espaço, preocupam-me os biliões que nós, os de pés firmemente plantados no solo terrestre, continuamos a gastar na invasão de países, no subsidiar de projectos megalómanos de grandes e pequenas potencias (os quais apenas servem os interesses egocêntricos de uns poucos privilegiados e aumentam a manipulação dos muitos anestesiados) e, a uma escala mais reduzida, as somas astronómicas que são investidas na nova religião do mundo: o futebol.
Haja lucidez: daqui…só para o espaço, pelo menos em termos físicos, claro. Toda a literatura e mais artes de ficção científica anunciam esse facto incontornável. Resta-me desejar que o façamos com uma consciência apurada dos nossos problemas reais, que são de todos, e na certeza de que, se os não resolvermos aqui, connosco viajarão para o espaço.
MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos
Existe um Deus que é o conjunto de tudo quanto apercebemos no Universo. Tudo o que existe contém Deus, Deus contém tudo o que existe. Pode-se, sem blasfémia, considerar, falar não de Deus mas apenas do Universo, com Espírito e Matéria, formando um todo indissolúvel. A doutrina de Deus, tal como a pôs Cristo, permite considerar todas as religiões como boas, embora em graus diferentes, todos os homens como religiosos. Não poderá, portanto, fazer-se em nome de Deus qualquer perseguição: todo o homem é livre para examinar e escolher; a maior ou menor capacidade de exame e o resultado da escolha serão, em qualquer caso, a expressão do que ele é e do máximo a que pode chegar segundo as suas capacidades.
A visão mais alta que podemos ter com Deus, nós que somos apenas uma parte do Universo, é uma visão de Inteligência e de Amor; os pecados fundamentais que o homem poderá cometer são as limitações da Inteligência ou do Amor: toda a doutrina estreita, sem tolerância e sem compreensão da variedade do mundo, toda a ignorância voluntária, todo o impedimento posto ao progresso intelectual da humanidade, toda a violência, todo o ódio, limitam o nosso espírito e o dos outros, impedem que sintamos a grandeza, a universalidade de Deus.
Para que possa compreender Deus, para que possa, melhorando-se, melhorar também os outros, o homem precisa de ser livre; as liberdades essenciais são três: liberdade de cultura, liberdade de organização, social, liberdade económica. Pela liberdade de cultura, o homem poderá desenvolver ao máximo o seu espírito critico e criador; ninguém lhe fechará nenhum domínio; ninguém impedirá que transmita aos outros o que tiver aprendido ou pensado. Pela liberdade de organização social, o homem intervém no arranjo da sua vida em sociedade, administrando e guiando, em sistemas cada vez mais perfeitos à medida que a sua cultura que a sua cultura se for alargando; para um bom governante, cada cidadão não é uma cabeça de rebanho; é como que o aluno de uma escola de humanidade: tem de se educar para o melhor dos regimes, através dos regimes possíveis. Pela liberdade económica, o homem assegura o necessário para que o seu espírito se liberte das preocupações materiais e possa dedicar-se ao que existe de mais belo e de mais amplo; nenhum homem deve ser explorado por outro homem; ninguém deve, pela posse dos meios de exploração e de transporte, que permitem explorar, pôr em perigo a sua liberdade de Espírito dos outros.
No Reino Divino, na organização humana mais perfeita, não haverá nenhuma restrição de cultura, nenhuma propriedade. A tudo isto se poderá chegar gradualmente e pelo esforço fraterno de todos.
Se é certo que estamos num momento de viragem no que se refere à estrutura das sociedades e isso se reflecte com peso nos padrões de comportamento, que ensaiam a experimentação na busca do inovador, também é verdade que isso serve muitas vezes de pretexto para a desresponsabilização das pessoas perante a sua caminhada passada. Como é óbvio, inspira-me sobremaneira o novo, o diferente, sobretudo se corresponde a saltos interiores, mas não confundo esse facto com o que certas organizações ou personagens ditas da Nova Era que por aí proliferam (e, em muitos casos, prosperam) procuram semear.

Chega sempre a hora do frente a frente com um nível único do ser aonde muitos poucos, além de nós mesmos, têm acesso.

O que me tranquiliza é que tudo o que existe, existe com precisão absoluta.
Se comigo comunicas a nível profundo, ó tu, algures aí na multidão dos mil rostos, acerca-te deste meu corpo efémero para que te sinta.
Acerca-te, ó tu do meu devir, assiste-me no resgate da alma e da consciência, convoco-te para que construamos, lado a lado, pontes entre o céu e a terra. Anseio tecer a arte de morrer para o conhecido e, assim, desafio-te a que cresças comigos asas e raízes congruentes com o ser.
Sempre achei que era importante adormecer em paz. Sobretudo, entregar-me ao sono sem ira nem raiva contra fosse quem fosse. Já noutras partidas a minha alma deve ter aprendido os perigos desse tipo de energias à solta, manobradas pelo subconsciente enquanto a pessoa dorme, pois o impulso (nem sempre bem sucedido) de tentar acalmar os demónios da revolta e da cólera está bem vivo no meu ser.

