ORDEM NASCENTE

Textos poéticos e filosóficos sobre a ordem nascente
A ordem nascente é ainda elusiva e periclitante. São muitos os profetas apocalípticos que auguram o fim dos tempos, e assim alimentam o medo no ser humano, facto que não pode bem servir a humanidade. Mas há, sem dúvida, crescentes indícios, vestígios, sinais que auguram o fim de um tempo, o ruir das estruturas... MARIANA INVERNO

07 setembro 2004

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I N V O C A Ç Ã O

Se comigo comunicas a nível profundo, ó tu, algures aí na multidão dos mil rostos, acerca-te deste meu corpo efémero para que te sinta.
Nesse lugar sem coordenadas onde nos reencontramos, espelhas a minha insatisfação existencial, a grande, a por vezes convulsiva saudade de algo mais...
No reconhecimento recíproco, mais além das fronteiras da individualidade, invade silenciosamente o nosso interior a deslizante percepção de uma realidade íntima, que é doce e envolvente, sacralizada e difusa, fora do tempo e do espaço, marcada por um ritmo vibratório que é a um tempo som e luz em harmonia.

Segue-me, ó tu do olhar manso, segue-me para além dos dois princípios nesse regresso às origens que antevejo por via do amor pleno e absoluto. O amor que abre a disponibilidade infinita no nosso ser, que é livre das aprisionantes garras da posse e tudo inunda, galgando as margens dos sentidos físicos.
Encerrado no coração das células vive o Segredo. Aí jaz encarcerada a cor da nossa libertação e só pelo reencantamento se hão-de abrir os portais do que foi esquecido.

Acerca-te, ó tu do meu devir, assiste-me no resgate da alma e da consciência, convoco-te para que construamos, lado a lado, pontes entre o céu e a terra. Anseio tecer a arte de morrer para o conhecido e, assim, desafio-te a que cresças comigos asas e raízes congruentes com o ser.
Quero aceitar a confrontação com o imperfeito, transmutar os medos, crescer na direcção da completude.

Ser, ser, ousar ser...
Seguir com fé os indícios...
Ó tu do olhar manso, ó tu do meu devir, ó tu aí algures na multidão dos mil rostos...
A minha alma invoca-te!


MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos
Quadros: AMOR(1887) e MY SOUL AND I (1894) de SIMEON SOLOMON.

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