PERDIDAS PALAVRAS
Quadro:SUZANNE GYSEMANN
Há uma espécie de crepúsculo de alma que se segue à dor, feito de mil cansaços, cor da sensação que o eco do soluço deixa no ar...
Todo o amor profundo se liga com a pulsão fundamental do ser, nada deve realmente contrariar o seu canto...
Repouso o meu olhar fluídico nas copas das árvores ternamente agitadas pela brisa do final de tarde. Lá longe rasga-se nos céus esse ventre de fogo colado ao horizonte donde brotam já perdidas as palavras que eram as minhas e se fundiram no nada. Não houve quem as escutasse, esvairam-se na extremidade dos dias, fugiram de mim montadas no olvido.
Inclina-te, coração, entrega o teu sopro à noite que vem chegando. Aninha-te sem temores na hora dos passos incertos, quando tudo se reencontra para além dos véus.
Todo o amor profundo se liga com a pulsão fundamental do ser, contra ele nada se pode, ninguém pode mesmo nada.
Inclina-te, coração! Permite ao teu olhar dorido a amplidão cósmica dos voos altos, deixa que espelhos distantes te devolvam o encanto perdido...
MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos
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