ORDEM NASCENTE

Textos poéticos e filosóficos sobre a ordem nascente
A ordem nascente é ainda elusiva e periclitante. São muitos os profetas apocalípticos que auguram o fim dos tempos, e assim alimentam o medo no ser humano, facto que não pode bem servir a humanidade. Mas há, sem dúvida, crescentes indícios, vestígios, sinais que auguram o fim de um tempo, o ruir das estruturas... MARIANA INVERNO

12 setembro 2004

CounterCentral hit counter

C A T C H 22



A densidade. Busco com obsessão a densidade. Nos gestos, nos afectos, nas conversas, na palavra...
É como se a ligeireza e a superficialidade, o carácter tão efémero de quase tudo me repugnasse, como se representasse uma anti-vida.
Mas o que é que nós, humanos, fizemos da nossa existência? Da nossa oportunidade?
Tudo me entedia, me aborrece. A mim, que amo sobremaneira as fabulosas manifestações da vida, da energia pulsante nas artérias do ser!
Só pode ser porque a nível interno não detecto existência real nesta farsa que por aqui se movimenta à superfície, trata-se de um simulacro, de uma representação qualquer, um fraco holograma que já não consegue convencer...



Tenho tantas saudades da verdadeira alegria. Aquela que faz cintilar molhos de estrelas no olhar inocentemente seguro e aberto. Aquela que nos limpa de todas as cargas e nos dá alento para prosseguirmos. É feita de cumplicidade, companheirismo, identidade, entrega sem medos, ternura... representa tanta coisa que não é verbalizável.
Tenho saudades , se calhar, de outro holograma. Mais convincente... para a minha alma poética.
Também eu, na minha auto-percepção, me torno a ilusão de mim mesma. Se calhar nada existe, somos os pobres tontos iludidos pelo carácter sedutor da “missão”, do “cumprimento do ser” e dos “sentimentos profundos”...

Não obstante, tenho saudades. Da alegria. Da densidade. Do propósito. Da luz da Vida.
Catch 22.


MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos
Quadro: As Águas Primordiais, Liliana Piovano

BlogRating