CORAÇÃO PARADOXAL
Eu não: Quero é uma verdade inventada.
CLARICE LISPECTOR
BARRY SHARPLIN
Pois é. O sentido das coisas carece de ser inventado por mim, carece de encontrar ressonância – por mais ilógica que ela apareça a observadores externos – na parte mais tenra do meu coração, para que eu sinta que é verdade. O coração não se engana. Dispõe de detectores estranhos, não sujeitos às leis conhecidas, e firma as suas escolhas independentemente das conveniências circunstanciais. É temerário, húmido e paradoxal.
O equilíbrio q.b. entre as orientações da mente racional - indispensáveis ao aceitável funcionamento na ordem de valores em que ainda vamos (sobre)vivendo – e esse fluxo quente e extático, quase subversivo que nos invade naqueles momentos de entrega ao inexplicável representa a grande chave, de certo modo o código, para transcendermos a ainda muito generalizada situação de escravatura espiritual, moral e social em que a humanidade se encontra.
Olhai os lírios do campo...olhai o resto.
Não queremos clones. Indesejáveis, os bons alunos.
Deixai as borboletas voar, voar...
Sem rumo pré-estabelecido.
MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos
Venho silenciosa para um destino desconhecido.

"O mundo objectivo é o resultado final da acção interior. Pode-se em verdade manipular o mundo objectivo a partir de dentro, estes são na realidade o meio e a definição da verdadeira manipulação...
Na Noite Terrível
Não há dúvida de que é inútil e prejudicial lamentarmo-nos perante o mundo. Resta saber se não é igualmente inútil e prejudicial lamentarmo-nos perante nós próprios. Evidentemente. De facto, ninguém se lamentará perante si próprio, a fim de se incitar à piedade, o que nada significaria, dado que a piedade é, por definição, o voluptuso encontro de dois espíritos. Para quê, então? Não para obter favores, porque o único favor que um espírito pode fazer a si próprio é conceder-se indulgência, e toda a gente percebe quanto é prejudicial que a vontade seja indulgente para com a sua própria e lamentável fraqueza.
ASSOMBRO EXISTENCIAL
De diversas maneiras, da infância à velhice, todos vivem em maior ou menor grau momentos em que são invadidos por um sentido de completo desamparo, e os que não puderam controlar o desespero e o medo que disso advêm conheceram algo da imensa protecção existente nas bases da vida. Nesses momentos de aguda conscientização dos limites do ego é possível ao ser dar um salto, tocar a sua realidade – imperecível independentemente de qualquer factor externo. Essa vivência, por breve que seja, deixa-lhe marcas internas profundas e contribui para a iluminação da sua consciência, iluminação que nada mais é do que a plena absorção da verdade sobre a própria existência imortal.

A essência das coisas, essa verdade oculta na mentira, é de natureza poética e não científica. Aparece ao luar da inspiração e não à claridade fria da razão. Esta apenas descobre um simples jogo de forças repetido ou modificado lentamente, gestos insubstanciais, formas ocas, a casca de um fruto proibido.
O que é angústia?

