ORDEM NASCENTE

Textos poéticos e filosóficos sobre a ordem nascente
A ordem nascente é ainda elusiva e periclitante. São muitos os profetas apocalípticos que auguram o fim dos tempos, e assim alimentam o medo no ser humano, facto que não pode bem servir a humanidade. Mas há, sem dúvida, crescentes indícios, vestígios, sinais que auguram o fim de um tempo, o ruir das estruturas... MARIANA INVERNO

06 junho 2004

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LAMENTAÇÕES...

Não há dúvida de que é inútil e prejudicial lamentarmo-nos perante o mundo. Resta saber se não é igualmente inútil e prejudicial lamentarmo-nos perante nós próprios. Evidentemente. De facto, ninguém se lamentará perante si próprio, a fim de se incitar à piedade, o que nada significaria, dado que a piedade é, por definição, o voluptuso encontro de dois espíritos. Para quê, então? Não para obter favores, porque o único favor que um espírito pode fazer a si próprio é conceder-se indulgência, e toda a gente percebe quanto é prejudicial que a vontade seja indulgente para com a sua própria e lamentável fraqueza.
Resta a hipótese de o fazermos para extrair verdades do nosso coração amolecido pela ternura. Mas a experiência ensina que as verdades surgem apenas em virtude de uma pacata e severa busca, que surpreende a consciência numa atitude inesperada e a vê, como de um filme que parasse de repente, estupefacta, mas não emocionada.
Basta, portanto.


CESARE PAVESE, O Ofício de Viver



ASSOMBRO EXISTENCIAL

Tenho alma e ouvidos
aqui na palma da minha mão marcada
Tenho alma e ouvidos
encaixados na pele
fronteiriça com todas as coisas
E tenho dedos tácteis
pluridimensionais
alongados para além de mim
exploratórios
de mistérios inimagináveis

Questiono todas as coisas
existentes tão só
por via da mão e da pele
e até mesmo
dos longilíneos dedos invisíveis


Recolho-me ao meu assombro


MARIANA INVERNO



EXPANSÃO DE CONSCIÊNCIA


Muitas são as situações no mundo material que levam o ser a sentir-se completamente perdido, mas poucos reconhecem o valor delas.De diversas maneiras, da infância à velhice, todos vivem em maior ou menor grau momentos em que são invadidos por um sentido de completo desamparo, e os que não puderam controlar o desespero e o medo que disso advêm conheceram algo da imensa protecção existente nas bases da vida. Nesses momentos de aguda conscientização dos limites do ego é possível ao ser dar um salto, tocar a sua realidade – imperecível independentemente de qualquer factor externo. Essa vivência, por breve que seja, deixa-lhe marcas internas profundas e contribui para a iluminação da sua consciência, iluminação que nada mais é do que a plena absorção da verdade sobre a própria existência imortal.

TRIGUEIRINHO, Encontros com a Paz
Ed.Pensamento, São Paulo, 1993



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