ORDEM NASCENTE

Textos poéticos e filosóficos sobre a ordem nascente
A ordem nascente é ainda elusiva e periclitante. São muitos os profetas apocalípticos que auguram o fim dos tempos, e assim alimentam o medo no ser humano, facto que não pode bem servir a humanidade. Mas há, sem dúvida, crescentes indícios, vestígios, sinais que auguram o fim de um tempo, o ruir das estruturas... MARIANA INVERNO

18 junho 2004

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O QUE ME CABE

Vagueio pela noite, tomada deste imperativo de ser só, sózinha, somente comigo mesma, sem pesar a ninguém, sem as fadigas das emoções interdependentes, sem jogos, sem nada.
Correm no interior das minhas lágrimas os espaços maiores que habitavam o filme coreano de ontem à noite. Espaços interiores e espaços externos. Limpou-me a alma e senti-me tão leve e poderosa por momentos. Tudo a fazer sentido, tudo sem importância – eu, sobretudo.
Quando era jovenzinha escrevia assim,
Não posso ser
o que não sou
Embora queira
aprender o que não quero
mantenho o desespero
de me manter intacta

Como é que eu sabia isto aos dezasseis anos? E, se era tão esperta, como é que não previ o que me esperava?
Passa tudo, desfilam as dores dos outros, e eu onírica, ainda lanço flores na passagem dos que sofrem, sobretudo esses. Passa tudo.
Eu, sem importância. O que faço, irrelevante. No meu cacifo privado, só eu e as minhas ilusões têm lugar.


MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos




JANELA PESSOANA

Na Noite Terrível

Mas o que eu não fui, o que não fiz,
o que nem sequer sonhei;
o que só agora vejo que deveria ter feito,
que só agora claramente vejo
que deveria ter sido,
isto é que é morto
para além de todos os Deuses ...

Pode ser que para outro mundo
eu possa levar o que sonhei.
Mas poderei eu levar para outro mundo
o que me esqueci de sonhar?
Esses, sim, os sonhos por haver,
é que são o cadáver.
Enterro-os no meu coração para sempre,
para todo o tempo, para todos os universos...


ÁLVARO DE CAMPOS




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