POR DETRÁS DE MIM MESMA
LEONOR FINI
Não sei o que me assalta, hoje em dia.
Estou contente, logo triste.
A minha alma anseia pela graça e tudo reviro na ânsia de a encontrar. É, contudo, no estar quieta que ela melhor percorre o interior das minhas células, aliviando-me de todos os pesos, mesmo do de estar viva. Fico ensimesmada a pensar no motivo de tantos altos e baixos, eu que fui sempre uma criatura na aparência estável e equilibrada. Gosto e deleito-me em todas as coisas que em geral encantam o género humano: flores, crianças, ternura, afectos, boas comidas, fragrâncias, beleza, sonho, canto, música...
Mas há um sítio-estádio onde nada disso parece contar muito. Difícil descrevê-lo, complicado alcançá-lo...É como os meus olhos a olharem para dentro de si mesmos, é como se por detrás de mim estivesse eu mesma e para o nosso diálogo não tivesse sido achada por ora a palavra justa.
Portais a abrirem-se, certezas totais moldáveis como um plasma, choro, dádiva, dúvida sistemática recorrente como a estação fria em cada ano, solidão, união, ausência...
Triste ou contente, resisto mais. De algum modo, sou mais vezes e por mais tempo a que está por detrás de mim mesma. Amparo-me nesse facto.
MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos
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