LUZ REVELADORA
Em momentos de crise, a imaginação é mais importante que o conhecimento. ALBERT EINSTEIN
Vagueio por onde nem eu sei. Há tantos caminhos sem norte aparente, busco-me na experiência da resposta ao grito lancinante da gaivota perdida no azul da madrugada.
Se tudo for obscuro, tudo negritude, não há que enganar. Só a entrada, ainda que ténue, da luz, esboçará contornos, imprecisos e irreais a princípio para, pouco a pouco, gerar a forma que me espera.
De onde vens forma, energia, impacto novo, a que vens, o que trazes, por que me esperaste para além da luz…
O que me reservas em mim, a que descoberta pessoal me conduzes, que lágrimas, secretos tormentos e inexplorados passos pressentiste no meu ser caminhante sem que eu percebesse que o teu silencioso respirar me anunciava mais um pouco do que está para ser revelado…
Cruzam-se em mim o velho e o novo, numa plataforma surrealista, trágico-cómica. Busco um sentido, um caminho, som ou forma reconfortantes, algo que me lembre o que esqueci sem querer.
A chegada da luz, ainda que subtil e esparsa como uma névoa tímida, desperta acordes novos, não identificados e remete-me para um sonho despontante, ainda em construção. A luz dá-me o mote, acaricia-me o interior dos olhos, penetrada a pele e o coração da sua qualidade iluminante.
Avanço, sem medo, com medo, sou talvez mais eu quando pouso enfim o olhar no que buscava sem saber. Choro então as lágrimas do reconhecimento e danço grata nas estrias da luminosa energia…
MARIANA INVERNO, Textos da Travessia