ORDEM NASCENTE

Textos poéticos e filosóficos sobre a ordem nascente
A ordem nascente é ainda elusiva e periclitante. São muitos os profetas apocalípticos que auguram o fim dos tempos, e assim alimentam o medo no ser humano, facto que não pode bem servir a humanidade. Mas há, sem dúvida, crescentes indícios, vestígios, sinais que auguram o fim de um tempo, o ruir das estruturas... MARIANA INVERNO

17 abril 2005

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Mudar o Mundo

“A VOZ DOS CIDADAOS PODE MUDAR O RUMO DO MUNDO.
O dever dos media é predicar e dar voz aos que a não têm para conseguir transpor o abismo de desigualdades em que vivemos.”


VICENTE FERRER,
ex-jesuíta de Barcelona,
precursor dos Programas de Desenvolvimento Integral
de Apoio aos mais pobres



Domingo de manhã. Afortunada e muito consciente de todos os meus privilégios, vim dar um longo passeio pelo belo Parque do Retiro, mesmo no coração de Madrid. Tocam ao longe, solenes e antigos, os sinos festivos de uma igreja, meia dúzia de crianças brincam na minha frente com uma bola multicolor. Passam casais e passam mulheres sós, umas novas outras mais entradas na idade, empurrando carrinhos de bébé. Gente de idade, de incongruentes ténis nos pés, exercitam os veículos físicos, já a dar de si.
Passam também jovens meio enigmáticos, em geral homens, altos e bem parecidos , de óculos escuros, jornal debaixo do braço, a dar a impressão de que só olham em frente, para além do que aqui se vê, e nada mais lhes interessa. Ciclistas, o chilrear dos passarinhos e este verde de tantos cambiantes, troncos antigos a chamarem o meu abraço. Um friozinho agradável, próprio de Abril.

Atravesso uma época de extraordinárias mudanças, interiores e exteriores. Revejo tudo, tudo questiono, viro-me cada vez mais para a orientação do espírito, sendo a mente racional apenas um suporte.
Estive a ler ao pequeno almoço uma entrevista no EL PAÍS com este homem extraordinário que é o barcelonês Vicente Ferrer. Ele combate a pobreza no mundo através de projectos educacionais, sanitários e agrícolas que já beneficiam hoje, na Índia, mais de dois milhões de intocáveis!
Defende Vicente que não podemos ficar indiferentes perante o absolutamente excessivo número de pobres no mundo e que “os grandes discursos humanitários não chegam aos confins da Terra não dando, por conseguinte, de comer a quem mais necessita”.

Vicente Ferrer tem razão. De barriga a dar horas, ninguém consegue pensar, muito menos actuar. Mas este homem corajoso e subversivo foi encontrando maneiras de começar por dar de comer a quem tem fome; passou depois à fase seguinte, que foi a de estabelecer sistemas educativos e permitir aos pobres o acesso possível ao dinheiro para que possam trabalhar a terra, criar animais, estabelecer pequenas indústrias. A sua tem sido, na terra de Ghandi, uma revolução silenciosa mas eficaz e, como tal, aos 85 anos tem muito que contar: perseguições de todo o tipo pelos grandes e poderosos, ameaças de prisão, a acusação de estar a criar um governo paralelo e até a ordem de expulsão da Índia em 1968. Esta última, contudo, foi parada por um movimento a seu favor, levado a cabo por 30.000 camponeses e secundado por intelectuais, políticos e leaders religiosos. Os camponeses fizeram 250Kms a pé, entre Manmad e Bombaim para pedir justiça. Indira Ghandi acabou por reconhecer o valor do trabalho do ex-monge encontrou uma solução.Vicente Ferrer não tem papas na língua. Denuncia sem rodeios a inoperacionalidade prática de instituições como o Banco Mundial e a Unicef – apesar de todos os seus recursos – os quais têm uma percepção meramente intelectual do que é a pobreza no mundo, a qual para eles não tem cara e é estudada través de números e complexas classificações. As ajudas advindas das suas conclusões são filtradas por uma complexa máquina burocrática e o resultado é o que está à vista.

Alguém com a coragem de Vicente Ferrer, que une a palavra à acção, faz obviamente medo a quem não tem a consciência limpa como são aqueles que integram a matriz de controle do planeta. Daí as perseguições...
Mas Vicente sabe que a consciência da sociedade civil actual está em vias de expansão e “se preocupa (muito mais do que antes) com o que se passa além fronteiras. No fundo, tem um verdadeiro desejo de (maior) igualdade.”

Fixemo-nos em exemplos como o deste ser humano. Não nos cabe a todos fazer o mesmo, nem da mesma forma. Mas, na época que o planeta atravessa, somos todos chamados a abrir o coração, a trabalhar nos nossos poluídos interiores, a nos tornarmos conscientes do que REALMENTE se passa no mundo e, de modo não agressivo, sem guerras nem conflitos, afirmar pela palavra e pela acção que o nosso mundo não tem de seguir a fórmula que nos “venderam” quando cá chegámos.

A voz de todos os cidadãos, em sintonia com o coração, pode em verdade mudar o mundo!


MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos

1 Comments:

At 6:09 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Muito interessante... mudar o mundo é difícil, mas se não tentarmos, não muda mesmo!

Parabéns pelo artigo...

Portia

 

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