Da Consciência, repressão, medo e pseudo-soluções...
Ando muito preocupada.
No país da lassidão, da irresponsabilidade e da esperteza saloia, no país da não inscrição como adequadamente o classifica José Gil, o poder instituído tem vindo a avançar selvaticamente sobre o cidadão comum com abusos e punições de toda a ordem, para que enfim se estabeleça a ordem, o progresso, a modernidade e o equilíbrio das contas públicas em Portugal.
Sem mexer um milímetro na consciência – a única força revolucionária de resultados duradoiros – o cidadão vê, da noite para o dia, a sua vida, hábitos e destino abruptamente interrompidos e alterados com sanções de execução imediata.
Amanhã, por exemplo, entra em vigor o novo Código da Estrada. Muito necessário, dizem. Uma vergonha, este país, na cauda de tudo quanto é bom e no topo daqueles em que, na Europa comunitária, ocorre maior número de acidentes e mortes. Agora, para remediar tudo isto (e arrecadar dinheiro depressa e bem para fazer face ao déficit) vai-se espetar com multas de centenas/milhares de euros, imediatamente pagáveis in loco, ao automobilista que cometa a menor infracção!
Que se acautelem os incautos condutores dos bólides portugueses ofensivos: ou andam de carteira bem recheada ou será melhor que o cartãozinho do multibanco funcione às mil maravilhas. Se não, ficam sem bólide. Ali mesmo, in loco.
Ora, como a maioria dos portugueses conduz vergonhosamente e anda a maior parte do mês com uma mão à frente e outra atrás em questões de dinheiro, prevejo que o Estado terá de construir quilómetros de espaço de estacionamento na periferia das cidades para os veículos apreendidos. Pelos montantes das anunciadas coimas, prevejo ainda que muitos deles poderão nunca vir a ser resgatados, pelo que novos problemas, logísticos, burocráticos, jurídicos, de gestão e possivelmente de marketing se irão apresentar.
Pode até ser que, à boa maneira da nossa terrinha, tudo não venha a passar de um fogo de vista inicial, com a tradicional meia dúzia de vítimas e passe rapidamente à medida não inscrita do costume. Isto é, a medida que, por variadíssimas razões, não é integrada pela realidade dos portugueses.
Ó céus, pois se as pessoas de agora são as mesmas de há bocadinho, por que é que seria possível levar a cabo com rigor aquilo que nunca fizeram, aquilo que até os seus átomos parecem rejeitar? Aquilo que não faz parte nem sentido, aquilo que lhes aparece contra natura?
E, depois, estamos supostamente num espaço e num tempo democráticos em que, por princípio, o poder do estado não se pode impôr tirânicamente às pessoas. A não ser que (daí um dos motivos da minha preocupação) comecem a estar de volta os tempos de repressão humilhante e castradora do pré-25 de Abril. Nesse caso, será bom lembrar que a tragédia de uma sociedade repressiva é principalmente a dos seus constituintes agirem sem consciência, manipulados pelo MEDO.
Mulheres e homens deste país, do mundo inteiro: despertai, pois já não há tempo.
Há-de perecer quem não crescer!
Temos de trabalhar incansavelmente em nós mesmos, integrar conhecimentos, educação cívica e ecológica e uma ética comportamental próprios de quem sabe ser responsável por si mesmo e pelas suas acções. Capaz, por conseguinte, de dirigir a sua vida de forma consciente, sem espaço para o exercício de práticas repressivo-punitivas pelas “autoridades”.
É urgente que nos treinemos na análise e no questionamento do que se passa à nossa volta. É urgente que envidemos esforços no sentido da mudança da qualidade interior –aquela que aponta para a nossa total responsabilidade e empenho no respeito e amor incondicionais por todas as manifestações de vida.
Digo e penso tudo isto e muito mais, a Bem de um Mundo Melhor!
MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos
2 Comments:
Coitados dos portugueses, com o novo código da estrada vão ficar de tanga.
E viva a democracia!
Sue
Não sei se punir desta forma sem as pessoas terem à partida a preparação que deviam ter servirá para alguma coisa de válido. Os resultados garantidos são seguramente mais frustração, lágrimas, ressentimentos, mais dinheiro arrecadado pelo Estado.Mais medo, também. Mas quanto à integração de uma consciência que nos permita um salto compotamental qualitativo...não esperemos nada!
Obrigado pela tua visista
Mariana
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