O Reflexo do Esplendor
Tanto nada quis de nada,
Que hoje nada o quer de mim.
Fernando Pessoa
Desde pequena que me habituei a fabricar os foguetes, lançá-los, protagonizar a festa e, no final, limpar o lixo. Por esta razão tenho sido, em geral, considerada “muito inteligente, muito boa, com muitos recursos, o sol da família, a salvadora dos aflitos” e outras coisas aparentadas.
Não foi sem alguma amargura e apreensão que usei a alegoria inicial. É que cheguei a um momento na minha vida em que o cansaço me vence e o desencanto tende a instalar-se. A gente dá, dá, dá, passa por cima de todas as indiferenças, desconfianças, ressentimentos, desfeitas. A gente teima em abraçar, com palavras e gestos, quem aparentemente não sente ou não compreende o nosso abraço, só porque o amor é assim, uma espécie de elemento natural, vivo em si mesmo, que corre por conta própria.
O amor não busca dividendos a não ser, creio hoje, o reflexo do seu esplendor!
Ora acontece que, a esse, raramente o vislumbro. A minha mãe, velhinha e experiente, tem-me sempre explicado sem hesitações: não é por seres minha filha mas não há gente como tu, tens de te defender, dás demais, é preciso ser mais normal.
Como não me contento com a normalidade da vida, vou ter que me redireccionar. Como, não sei.
Novas lições a aprender...
MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos
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