ORDEM NASCENTE

Textos poéticos e filosóficos sobre a ordem nascente
A ordem nascente é ainda elusiva e periclitante. São muitos os profetas apocalípticos que auguram o fim dos tempos, e assim alimentam o medo no ser humano, facto que não pode bem servir a humanidade. Mas há, sem dúvida, crescentes indícios, vestígios, sinais que auguram o fim de um tempo, o ruir das estruturas... MARIANA INVERNO

29 julho 2004

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I N D Í C I O S ...

Corre um estremecimento pela ponta da minha pena. É ainda vago, entrecortado, elusivo até... Sonho com ele, como se tardasse a honrar o ineludível tempo. A ponto de se expressar, escapa-se contudo, ensombrado pelas continuadas horas de produção concreta, pelo ruído externo.
Tudo encaixa. As coisas devem fazer sentido. Ajustar-se.
Enquanto isso, a pena traça, inquieta e misteriosa, esboço de rodopio futuro, uma dança verbal bela e necessária. Tudo é ainda lusco-fusco, respira o ar segredos, algures canta algo ou alguém que não consigo ouvir distintamente.
Conta-me, vida, ao que vim. Acorrenta-me ao teu devir, mas deixa que o meu jardim floresça. Há de todas as flores, há de facto novas flores no meu campo maior, sou a onda que irrompe de si mesma, sou o grito e o vazio do próprio grito, em giratória convulsão.
É certo que transporto o meu olhar cerrado para tudo o que me não toca as entranhas. Respiro, por isso, encantada e perplexa, os indícios de ouro da transmutação...


MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos
Quadro: Helena Nelson Reed

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