ALMAS CONHECIDAS
Recebi com alegria e dedicado a uma "alma conhecida", um exemplar de "Cânticos", últimas e gloriosas palavras poéticas que essa outra alma conhecida, Cecília Meireles, nos deixou na sua recente passagem por esta dimensão.
Em verdade, só se pode amar aquilo que se (re)conhece...
III
Não digas onde acaba o dia.
Onde começa a noite.
Não fales palavras vãs.
As palavras do mundo.
Não digas onde começa a Terra,
Onde termina o céu.
Não digas até onde és tu.
Não digas desde onde é Deus.
Não fales palavras vãs.
Desfaze-te da vaidade triste de falar.
Pensa, completamente silencioso.
Até a glória de ficar silencioso,
Sem pensar.
V
Esse teu corpo é um fardo.
É uma grande montanha abafando-te.
Não te deixando sentir o vento livre
Do Infinito.
Quebra o teu corpo em cavernas
Para dentro de ti rugir
A força livre do ar.
Destrói mais essa prisão de pedra.
Faze-te recepo.
Âmbito.
Espaço.
Amplia-te.
Sê o grande sopro
Que circula...
CECÍLIA MEIRELES (1901-1964)
Cânticos, 2002, Editora Moderna, São Paulo (25ª impressão)
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