ORDEM NASCENTE

Textos poéticos e filosóficos sobre a ordem nascente
A ordem nascente é ainda elusiva e periclitante. São muitos os profetas apocalípticos que auguram o fim dos tempos, e assim alimentam o medo no ser humano, facto que não pode bem servir a humanidade. Mas há, sem dúvida, crescentes indícios, vestígios, sinais que auguram o fim de um tempo, o ruir das estruturas... MARIANA INVERNO

25 janeiro 2004

CounterCentral hit counter

REINVENTAR O FOGO

Quando os seres humanos domarem as ondas, os ventos, as tempestades, os furacões, quem sabe não dominarão também as forças do amor? Então, pela segunda vez na história da humanidade, teremos inventado o fogo!
TEILHARD DE CHARDIN (1881-1955)



HEART
"Zitto Images"


Penso todos os dias no estado paradoxal do nosso estadio actual de seres humanos “servidos” por tecnologias crescentente e aceleradamente mais sofisticadas e, por definição e em consequência, libertadoras em termos de disponibilidade para sermos mais quem somos e de acessibilidade, por exemplo, à vastíssima e incomparável fonte de referências e informação que é a internet.
Por outro lado, não posso deixar de constatar que o ser humano parece hoje mais perdido e automatizado do que nunca, escravo das tecnologias que inventou e do dinheiro que elas geram, possuído de ansiedades de várias ordens: consumista, informacional e de eterno rejuvenescimento físico, entre outras.
Chego sempre à mesma conclusão: a evolução tecnológica tem triunfado desvinculada da consciência do que somos, de quem somos, para onde caminhamos. Tem tido lugar à margem dos afectos e da solidariedade social. Assenta num saber acumulativo, um conhecimento de “superfície” que em nada toma em conta o ser interior, cada vez mais empobrecido. Assim, os triunfos civilizacionais que hoje se vivem denotam uma utilização irresponsável dos fantásticos meios tecnológicos ao nosso dispôr, pela falta de consciência alargada de quem os utiliza.
Como fazer, então? A água não corre uma segunda vez debaixo da ponte e eu estou tão emaranhada na teia das nossas ilusões como quase toda a gente. Mas lá sobrevem um ou outro momento de lucidez em que vou pensando em possíveis soluções, dentro da transitoriedade de tudo: aos mais velhos cabe um esforço acrescido de aceleração do seu crescimento interior na coragem de questionar os velhos sistemas – social, educacional, religioso e político - obsoletos e quase sempre nefastos, um esforço de confrontação com a alienação colectiva e os fanatismos vigentes. O resultado é, regra geral, uma abertura de coração que se inclina com humildade perante o aprendizado que a marcha de cada um gera inevitavelmente. Aos mais novos, tudo isto e ainda o vigor e o entusiasmo que a sua subjectiva percepção da vida e da morte lhes confere.
Os jovens sofrem na pele a natureza contraditória e paradoxal do mundo que habitam, mas isso deve ser visto e acarinhado como a sensibilidade daquele que está aberto à palpitação da alma da humanidade e não se fecha mais em mundos ficcionais do que parece bem ou deve ser porque sempre foi assim.
Urge, irmãs e irmãos terrenos, religar o conhecimento cientifico ao amor, redistribuir os meios disponíveis de forma equitativa, urge ousar ser com os cuidados que a pessoa verdadeiramente temerária sabe ter.

Urge reencantar a Vida. Inventar, pela segunda vez, o fogo!


MARIANA INVERNO

BlogRating