NORMOSE
Quando um paradigma de valores deixa de dar resposta às necessidades de uma sociedade instala-se uma crise que levará inevitavelmente a um novo paradigma. No processo de transição, no entanto, imperam as cruas forças da violência, dos extremismos, da corrupção, do fanatismo e do desamor. Em tal contexto patológico que, quer queiramos quer não, é o do mundo onde vivemos, ser normal significa adoptar um comportamento de adaptação ao contexto patológico reinante. A esta “doença”, tão terrível quanto subtil, o sociólogo e antropólogo Roberto Crema chamou normose.
A maioria, moldada e automatizada pelo estado civilizacional a que chegámos, deixa-se guiar por um paradigma ultrapassado e profundamente ameaçado pelas novas forças emergentes. Isto dá origem, na visão de Crema, a uma disfunção normótica.
Este interessante ponto de vista, leva-nos à velha questão da evolução da consciência e do esforço continuado que nós, seres humanos incarnados, temos de realizar todos os dias em nós mesmos, de forma intencional e atenta. Não chega corresponder ao que se espera de nós como “seres periféricos”(personagens da trama humana de superfície). Torna-se até indesejável se se traduzir apenas nos efeitos da normose que não é mais que insanidade colectiva ou desequilíbrio institucionalizado.
Há que aprender a escutar as vozes interiores, íntimas e originais, tantas vezes indicadoras de trilhos nunca antes experimentados, que quase sempre nos conduzem, se seguidas com a inteligência do coração, a uma plenitude do ser.
Basta de reprimir a alma, companheiras e companheiros, neste mundo contagiado pelo sindroma da normalidade!
Cada ser humano alberga infinitas possibilidades de vir a ser algo de completo em si mesmo, não um tosco apontamento de pessoa. Temo que, na escalada evolutiva, sejamos ainda e só, um embrião de alguma coisa que deveria ser mas não é, porque tolhido e coagido no seu desenvolvimento expontâneo pelos agentes sociais e políticos, na sua maioria profundamente castrantes do impulso criativo que cada ser alberga naturalmente.
Atrevamo-nos à diferença, alcemos asas entre o céu e a terra, inventemos o Canto Novo que nos há-de embalar no Grande Salto quântico expansivo da consciência!
MARIANA INVERNO
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