Construindo o Futuro...?
Aqui, entre esta gente rica e dita importante, vou escrevinhando…para me centrar.
Oico-lhes os factos, as estatísticas, os megaprojectos. Hossanas para a direita e para a esquerda, biliões, muitos biliões (de dinheiro, claro, em moeda forte), grandeza sem fim, até vão ter a torre mais alta do planeta!
Concentro-me, as vozes são vago besouro de fundo.
O absoluto erro de buscar a imponência exterior com base na grandeza da dimensão, tudo sustentado no controle pela tecnologia.
Construir uma réplica de Manhattan num estado árabe é mimetizar uma realidade que não trouxe bem aventurança ao mundo. Não representa criatividade genuina por parte dos seus promotores e limita-se a tentar transpôr, à custa dos lucros provenientes dos recursos da Terra (que é de todos) um modelo inspirado numa sociedade obsoleta e muito corrupta: a ocidental. Modelo que, na parte do mundo hoje aqui em análise, tem os seus próprios escravos: gente oriunda do sub-continente indiano e filipinos, entre outros.
ILHA DOS MORTOS
Arnold Boecklin, 1880
O que me preocupa na humanidade actual é a falta de confiança e de fé em experimentar novos formatos. Pensar que tão enorme riqueza está a ser usada num mero decalque – ainda que adaptado a e impulsionado pelas circunstâncias do mercado mundial e pelo efeito da integração das novas tecnologias – deixa-me a alma arrepanhada de frustração. Como se as gentes estivessem eternamente presas numa roda kármica e seguissem sempre o mesmo molde, ao passarem pelo mesmo “sítio”, historicamente falando.
Falo assim e, contudo, dependo materialmente por ora do meu sucesso dentro deste ainda vigente padrão. Tornar-me uma óbvia e total dissidente não me ajudaria nem à causa de uma Nova Ordem pela qual tanto luto. Enfraqueceria, sem dúvida, a vantagem de eu ter ainda um pé nesse outro mundo em decadência, conhecer-lhe relativamente bem os mecanismos e poder, por consequência, tirar dele o melhor partido possível para os meus próprios fins.
Vejo uma riqueza material sem fim a erguer-se e eu aqui, por factores circunstanciais, no meio desta gente – eu, isolada e absurda – a perguntar à vida o que me quer dizer e como deverei fazer para fazer o melhor possível.; como ter a sabedoria para actuar q.b. no momento certo, eu que sou uma tecedeira de impossíveis e devo muitas vezes utilizar o dificilmente reconhecível e insuspeito factor.
DESTINO, Jan Toorop, 1893
Ninguém suspeita. São amáveis, simpáticos, até mesmo interessados no meu Projecto de Arte quando a conversa resvala nessa direcção.
Penso outra vez, sinto…Sinto-me.
Não aos enganos, não à poeira nos olhos.
Sem, contudo, me demitir do meu enleado com a vida, nem querer passar pelo que ainda não sou.
MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos
(no âmbito de uma conferência internacional em Londres)
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