ORDEM NASCENTE

Textos poéticos e filosóficos sobre a ordem nascente
A ordem nascente é ainda elusiva e periclitante. São muitos os profetas apocalípticos que auguram o fim dos tempos, e assim alimentam o medo no ser humano, facto que não pode bem servir a humanidade. Mas há, sem dúvida, crescentes indícios, vestígios, sinais que auguram o fim de um tempo, o ruir das estruturas... MARIANA INVERNO

13 novembro 2004

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Abertura de coração

Só a poesia lhe abre o coração...
Horas antes, outro alguém,Quando entras, causas um impacto tremendo. E percebe-se logo que contigo não se brinca. As pessoas intimidam-se...
Não sei se os dois discursos estão relacionados entre si, se s e referem à mesma coisa, pelas mesmas razões. Mas obrigam-me a olhar de novo para dentro de mim, a questionar-me.
Devo representar, à superfície do ser, papéis muito divergentes do meu verdadeiro sentir se faço alguém próximo de mim pensar que só a poesia me abre o coração. É verdade que me sinto mais eu quando me desloco, ágil, na palavra que torna as cores outras, os sons outros, e a percepção lateja como um coração arritmado no interior de mim. Mas se sou mais eu na expressão manifesta do que se passa dentro de mim, é porque essa voz indica que o meu coração se abriu, não é ela que o abre.
Fico a pensar por que é que todos os meus outros actos e gestos - tão simbólicos da minha alma a querer dar-se, a querer comunicar ternura, apoio, cumplicidade, bem querer, compreensão profunda, sintonia, identidade – parecem sair gorados como uma seta que erra o alvo.
Que o sentir e a intenção de me ligar ao outro são genuinos, isso eu sei. Mas algo falha no processo. Há uma inadequação qualquer, uma ponte que se não faz, ou por via de mim, ou por via do outro. Ou de ambos.
Transporto em mim a essência, a ligação, a memória (sei lá o quê) de algo precioso que tenho tido sempre que resguardar. Mas não guardar. A esse sopro cristalino, tento dirigi-lo aos outros, camuflado de normalidade e dos cuidados necessários para que não haja devassa. Mesmo com os que me são próximos, é como se estivesse sempre a postos para levantar as barreiras, se necessário. Talvez seja isso. Não posso ser possuída. Dou e esforço-me tanto mas, para os mais ambiciosos, não chega! Talvez seja esse o cerne da questão... Existe em mim esse recôndito lugar, esplendoroso e altamente vibracional onde ninguém penetra, pois quem poderá agarrar para si só a leveza do ar, o pulsar da terra, o voo do pássaro livre e guardá-los em exclusivo no seu cofre pessoal?

Depois, há a outra história. De eu intimidar, de causar “respeito”.
Austeridade, o ser séria, são pistas possíveis. Não entrar nos esquemas habituais e conhecidos, não pactuar com aparências. Há também a voz grave e funda, própria para ser ouvida de longe. As pessoas encolhem-se perante isto, dizem-me. Aqui há pouco a fazer. Não posso escapar à minha aparência, às caracerísticas do meu veículo físico, voz incluída. Haverá razões que a razão desconhece para eu parecer assim e o outro parecer assado. Tudo deve seguir um propósito misterioso e legítimo que, infelizmente, nos continua a escapar.

A manhã já se instalou, fresca e ensolarada. Tomarei um café, pão escuro e iogurte.
Exausta. Meia quebrada. (Por mais independente e solitária que eu seja, os outros contam. E muito.) Não é fácil sentir-se o inverso do que aos outros parece. Será um jogo? Interior ou exterior a mim, ao grupo?
Sabe-se lá...

Dai-me rosas, rosas
olhai comigo na direcção das árvores
nuas e senti
senti comigo como estamos sós
uns com os outros
nesta dura prova.

Dou-vos rosas. Senti-as.
São rosas. De verdade.
São mesmo rosas.


MARIANA INVERNO, Notas Diárias à Sombra dos Tempos

6 Comments:

At 12:29 da tarde, Blogger  rosaleonor said...

Minha amiga:

É sempre tão difícil aos outros verem-nos como somos...tal como nós nos vemos ao espelho ser diferente do que os outros vêm e somos...o mesmo com a nossa voz, a voz que nós escutamos e os outros ouvem...tudo diferente e longe de nós mesmas no íntimo e recôndito onde sós e nós sem escombros ou sombras...longe dos efeitos especiais que causamos na nossa expressão exterior complemento do que sonhamos. O ser é autor e encenador de si mesmo...e também espectador, o único que nos vê como somos...o resto são histórias e contos ou pontos que se acrescentam...
R.L.

 
At 12:40 da manhã, Blogger pimpampum said...

são rosas teus belos olhos
assim eu os vi
e uma rosa é sempre rosa
mesmo que disso não se dê conta
ou que um pássaro não lhe fale
por andar distraido em chilrear alheio
pois nem sempre as rosas vêem os passaros
e ambos Te asseguro Existem
eu como um pássaro
fiquei encantado em teus olhos
da alma da rosa
intimidação, não!
e depois as rosas cuidam das outras rosas
mesmo que as rosas disso não de dêem conta
belos textos de belo agir
bem hajas Mariana

teu outro nome, recorda-me algo ou alguém a que ainda não chego, vêem-me à memória a Zulmira, será?

e depois trago em mim nestes últimos tempos a imagem da seiva branca da rosa entre suas pétalas a aparecer

 
At 4:42 da tarde, Blogger mariana said...

Querida amiga Rosa Leonor:
Obrigado pelo teu comentário, sempre tão oportuno e filosófico. Muito importante a questão de quem observa quem ou o quê e os múltiplos e trocados papéis que parecem caber ao sujeito. Não será ele um produto de tudo o que o observa também? E de que forma?
Pano para mangas. Organizemos uma tertúlia à nossa moda para discutir o assunto...
Abraço amigo
Mariana

 
At 4:58 da tarde, Blogger mariana said...

Não sei como reagir perante a mensagem do pimpampum. Parece-me imbuída de uma intenção de conforto e de doçura, algo poético e de linguagem propositadamente meia codificada.
Não entendi a questão da Zulmira. Que nome é que lhe lembra o quê?
De qualquer modo, bem haja pela visita. Volte sempre e, se puder, vá-se explicando um pouco mais...
Saudações amigas
Mariana

 
At 2:53 da manhã, Blogger pimpampum said...

Olá Mariana, o "pimpampum" sou "eu", o paulo forte, a quem tu deste um cartão no outro dia e assim a teu convite te vim visitar. Quando apareceram os campos de id, estava lá o pimpampum, e assim o cliquei em vez de digitar paulo e ficando depois a pensar,que tinha ficado um pouco "enigmático", mas depois ao vê-lo até gostei.
fico feliz na Tua leitura da Intenção.gostei muito dos teus escritos e vou voltar, alias já voltei, hihihi

Zulmira é e foi uma das minhas Mestras, que eu muito Amo e muito Trago em Meu Coração, e que de alguma forma relaciono contigo, mas não sei como ao certo e estava com a esperança que a ti te fizesse alguma luz, mas não tem importância, pequeno mistério,agora esclarecido.

Este teu texto é muito bonito e profundamente universal, ressoa em muitos

paulo

beijos às minhas duas Amigas
são rosas
são rosas
sim senhor

 
At 7:02 da tarde, Blogger mariana said...

Paulo: Boa surpresa e obrigado por se ter identificado.
Quanto à Zulmira, interessante saber que é sua Mestra e que, de algum modo, eu lhe lembro essa energia. Por que será?
Ah, os mistérios da vida...
Já visitei o seu blog, que muito apreciei e deixei lá um comentário. Visitarei de novo em breve.
Um abraço e volte sempre
Mariana

 

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