O Terceiro Espaço
Será preciso invadir o espaço do outro para nos afirmarmos?
Será que o nosso espaço é tão pouco satisfatório e enriquecedor que se torna sempre indispensável irmos procurar fora de nós, no outro, com que alimentar a nossa vida? Não será um desrespeito total pelo outro o pretender para ele, e digamos para o seu bem, aquilo que ele não quer para si mesmo?
Nesta busca de si próprio através do outro, o ser humano arrisca-se sempre a perder-se... e finalmente a perder o outro. Se se tem necessidade de ficar seguro ao ponto de não deixar nunca ao outro o espaço necessário para que venha até nós, os tão solicitados gestos de amor e de ternura não podem enfim trazer o comforto que deles se esperava.
Quanto mais fortemente solicitado se sentir o outro, mais inibidos se tornarão os seus impulsos de espontaneidade...o que contribuirá para que aquele que solicita encontre pretexto para alimentar a sua ansiedade.
O espaço comum com o outro deve ser um terceiro espaço que não recubra inteiramente nem o nosso nem o seu: criamos juntos instantes partilhados, estamos apaixonados, somos amigos, ternos, cúmplices...formamos uma célula familiar, um grupo de trabalho, uma equipa desportiva...Mas devemos estar atentos a nunca reduzir a nossa existência a esse espaço comum.
...se dirigimos todas as nossas forças para um único objectivo, ficamos em perigo: arriscamos a perdermo-nos ao ponto de não sermos capazes de nos reencontrarmos jamais.
CATHERINE BENSAID, Aime-toi, la vie t’aimera
Ed. Robert Laffont, Paris, 1992
Ilustração: WILLIAM BLAKE
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