ORDEM NASCENTE

Textos poéticos e filosóficos sobre a ordem nascente
A ordem nascente é ainda elusiva e periclitante. São muitos os profetas apocalípticos que auguram o fim dos tempos, e assim alimentam o medo no ser humano, facto que não pode bem servir a humanidade. Mas há, sem dúvida, crescentes indícios, vestígios, sinais que auguram o fim de um tempo, o ruir das estruturas... MARIANA INVERNO

09 março 2004

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O HOMEM QUÂNTICO



“Há pensamentos que são infinitos. Numa época, em que se procura dissimular os que escapam ao automatismo imediato, os seres que se movimentam por detrás dos biombos da consciência, detêm segredos insuspeitáveis. A noção de universo, vulgarmente aceite, nada tem a ver com a possibilidade de situar o pensamento, num foco exterior ao próprio pensamento. Assim uma memória alienígena, ou seja, de fora para dentro, permite combinar no seio do universo um incalculável número de interpretações. No mundo finito, cada ser humano detém, pelo menos, uma interpretação. A mancha alastra-se e cobre espaços infinitos. Emerge então uma segunda medida do tempo que fecha naturalmente o quadrado da realidade. É nesta superfície que acontecem fenómenos inacreditáveis. A existência humana, apesar de se ter alargado a sua conceptualização até ao infinito, processa-se no interior de um cubo negro, de dimensões extremamente reduzidas. A ideia de um cubo, com apenas um metro de aresta, contendo a totalidade das manifestações registadas pelos sentidos humanos parece ser, no mínimo, absurda. No entanto, são inúmeros os exemplos históricos de situações absurdas que crescem e florescem no interior das necessárias civilizações humanas. O que torna possível experiências deste tipo é algo exterior ao próprio cubo. É, por assim dizer, a memória alienígena que se situa por trás do infinito. Assim, as realizações do ovo humano são gravadas na memória, no mesmo instante, em que esta ordena o movimento cúbico. Existe, portanto, uma simultaneidade nos dois pólos geradores de fenómenos. O paradoxal, nesta situação, é o facto da memória necessitar de uma fenomenologia para poder determinar e inscrever o devir. Ao contrário das operações realizadas no interior do cubo, e ordenadas por uma matemática local, a memória não actua separada, antes necessita de um campo que alimente a sua base de informações. A sua representação do absoluto transcende o próprio infinito. Nesta harmonia é mais fácil perceber a noção de individualidade, bem assim como a precaridade da existência. Singular o ser que pode ser dimensionado, enquanto um banal cubo negro, que contem no seu interior o universo, mas que à escala da dimensão humana dificilmente pode conter um homem de dimensões normais.”

RELATO DE UM HOMEM QUÂNTICO, Luís Miranda, 2003, Angelus Novus

1 Comments:

At 9:24 da manhã, Blogger Arsenal du Midi said...

estou a ler este bom livro
Luis de Miranda
www.luisdemiranda.net

 

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