ORDEM NASCENTE

Textos poéticos e filosóficos sobre a ordem nascente
A ordem nascente é ainda elusiva e periclitante. São muitos os profetas apocalípticos que auguram o fim dos tempos, e assim alimentam o medo no ser humano, facto que não pode bem servir a humanidade. Mas há, sem dúvida, crescentes indícios, vestígios, sinais que auguram o fim de um tempo, o ruir das estruturas... MARIANA INVERNO

09 setembro 2005

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Gerir o Potencial

Ao nascermos, trazemos connosco uma constelação de potenciais e probabilidades que nos cabe desenvolver. O corpo das crianças traz em si o potencial de crescer até atingir a vida adulta. A inteligência, a sensibilidade, a vontade, a intuição, todos os sentidos não materiais – inclusive o próprio sentido do amor – também trazem o potencial de desenvolver-se. Não no isolamento, mas na sociabilidade e na interacção com os outros e com o mundo.
Como único ser consciente-reflexivo, dos que conhecemos, o ser humano recebeu da vida o poder e a responsabilidade de tornar-se sujeito deste desenvolvimento como pessoa e como colectividade. Dois factores ontológicos que a vida lhe forneceu para isto são o trabalho e a educação.
Só emancipando o seu trabalho, saber e criatividade de toda a opressão e alienação poderá tornar-se sujeito do seu próprio desenvolvimento e realizar mais os seus sentidos humanos e as suas potencialidades. O sistema do capital mundial oferece-lhe a base objectiva para a emancipação do seu trabalho e conhecimento, mas os benefícios dos ganhos da produtividade são estruturalmente apropriados pelos que controlam os recursos produtivos e os meios de comunicação. Só a democratização desses recursos e meios, a construção de uma socioeconomia solidária, isto é, fundada nos valores da complementaridade, reciprocidade, apoio mútuo e amorosidade podem viabilizar a democracia efectiva, e garantir a cada indivíduo e à sociedade a liberdade ao seu trabalho e o direito de ser sujeito pleno do desenvolvimento dos seus potenciais.


MARCOS ARRUDA, Humanizar o Infra-Humano
Ed. Vozes, São Paulo, 2003

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