ORDEM NASCENTE

Textos poéticos e filosóficos sobre a ordem nascente
A ordem nascente é ainda elusiva e periclitante. São muitos os profetas apocalípticos que auguram o fim dos tempos, e assim alimentam o medo no ser humano, facto que não pode bem servir a humanidade. Mas há, sem dúvida, crescentes indícios, vestígios, sinais que auguram o fim de um tempo, o ruir das estruturas... MARIANA INVERNO

04 abril 2004

CounterCentral hit counter

EM NOME DO AMOR

Busco estar só pois doutra forma não consigo eliminar os ruídos periféricos. Nem mesmo na rua. Por vezes são vozes, outras só olhares.
You are so beautiful, where do you come from? Do inferno, doutro planeta, sei lá. Deve ser isso, pois aqui na Terra tenho tido dificuldades em que entendam o que eu quero dizer.
Pior ainda, no que se refere ao comportamento. Então, retiro-me. Preciso urgentemente de contactar a essência para me assegurar de que ainda lá está e que corresponde às palavras e a estes gestos que não logro conter, mesmo quando de mim duvidam.
Revejo tudo, mas não me lembro de nada quando me aproximo de mim. Como se véus intencionais baixassem sobre o detalhe e eu me fixasse apenas no bater do meu coração...triste, triste como só ele.
Sonhaste com quem, com quê? Tonta donzela, saída de uma braçada de lírios do vale, tenros e poéticos como um brotar expontaneo. Quem te iniciou na sequência louca da vida e dos afectos esqueceu-se de te avisar que do vale das sombras espreitam sempre os cruzados do extermínio, aqueles que esmagam o que não podem possuir. Vivem encapuçados, nos cantos sombrios dos seres humanos e, chegada a hora, não se ensaiam para carregar a fundo.
Tudo em nome do amor. Do verdadeiro. Do legítimo. Daquele que sempre existiu entre pessoas normais, dizem.
Para abrir uma porta, há que fechar todas as outras.
Só na concentração exaustiva num único ser se pode dar o salto.
Mais para mim, mais para aqui.
A todas as horas, o que fazes, o que dizes, o que sentes, o que sonhas.
Conta. Assume. Não omitas nada. A confiança alimenta-se de tudo isto. Dizem.

Devo ter nascido a uma hora inexistente, algo soprou na direcção inesperada e surgi eu, espécie de cardo exótico, ouriçinho magoado, fraude para alguns....

De outro modo alinhavar os dias, reinventar o ser, cuspir na terra o sangue que me sufoca. Não me deixem cair, forças do cosmos, trago recados que não sei ainda passar, preciso de conviver com quem me chama mas me não entende.
Em boa verdade, nem sei o quê ou se há algo para entender.
A cor dos meus olhos é imutável, os cruzados do extermínio resistentes como só eles.
Fadiga milenar. Choro de sempre..
Para onde me conduzes, pergunto eu. A mim.


MARIANA INVERNO, Notas Diárias á Sombra dos Tempos
Quadro: Georgia O'Keefe

BlogRating